“As empresas querem ganhar dinheiro ou manter o racismo?”, instiga Monique Evelle

As empresas têm de decidir se querem ser racistas, machistas ou capitalistas – afinal, negros movimentam 24% do PIB brasileiro e mulheres, 30%. Empresários querem ganhar dinheiro ou manter a discriminação? A provocação foi feita pela jornalista Monique Evelle no painel “Diversidade, ainda que tardia”, no último dia do Festival de Inovação e Cultura Empreendedora (FICE).

A literatura de gestão já mostrou que uma equipe de trabalho diversa é naturalmente mais inovadora e sensível a tendências e mudanças de cenário. Uma companhia inclusiva, onde todos têm oportunidades de crescer profissionalmente, atrai e retém gama mais variada de pessoas talentosas. Ou seja, a diversidade faz bem aos negócios. Monique dividiu o painel com Alexandra Loras, executiva, comunicadora e ex-consulesa da França. A conversa foi mediada por Maurício Pestana, CEO do Fórum Brasil Diverso.

Vindas de realidades muito diferentes, com práticas ativistas completamente distintas, Monique e Alexandra são figuras potentes do feminismo negro no Brasil. Monique tem 24 anos. Soteropolitana, do bairro de Amaralina, é filha de pai segurança e mãe empregada doméstica. Adolescente, em 2011, fundou o Desabafo Social, movimento que usa a comunicação e novas tecnologias para promover a educação em direitos humanos. A organização hoje está em 22 estados brasileiros. Há três anos, Monique recebeu o prêmio Laureate Brasil – Jovem Empreendedor Social, da Laureate International Universities.

No Brasil desde 2012, a parisiense Alexandra tem 41 anos. Com pai gambiano e mãe de família francesa tradicional e rica, é a única negra entre os irmãos, nascidos de outros casamentos da mãe. “Amei e fui amada por racistas”, contou, referindo-se aos avós. Alexandra é a criadora do aplicativo Protagonizo, um canal entre os departamentos de recursos humanos de grandes empresas e trabalhadores negros bilíngues.

Quando vão às empresas falar sobre a importância da diversidade no ambiente corporativo, frequentemente ouvem uma mesma justificativa para a ausência de homens negros e sobretudo mulheres negras em cargos de liderança: as companhias afirmam não conseguir encontrá-los. “Apenas 3% da população brasileira é fluente em inglês”, disse Monique. “Desses, 0,009% são negros.”

Para ambas, o racismo corporativo reflete o racismo na sociedade. Antes de chegar ao Brasil, Alexandra acreditava na chamada “democracia racial”. Não demorou a perceber que o país é um dos mais racistas do mundo. “A segregação aqui é cordial; está enraizada na cultura”, contou Alexandra. Veemente, ela disse que seu filho de seis anos já é machista e racista, apesar da mãe negra ativista. “O conteúdo produzido em torno dele, a narrativa, é machista e racista”, apontou. “O Brasil precisa assumir seus verdadeiros monstros para avançar.”