Esquecemos que antes de sermos criativos, precisamos ser produtivos

Roteirista do canal OFF, criador do programa 7Cumes e autor do livro “Escalando Sonhos”Gustavo Ziller vai começar seu mestrado em 2019. Irá defender na academia a tese que começou a construir na sua vida depois de sofrer um burnout. Há seis anos, após voltar de uma palestra, ele ‘apagou’ dentro de um carro no trânsito de São Paulo e só acordou no hospital. Aos 38 anos, estava esgotado.

Com o incentivo de sua esposa e filhos, decidiu repensar a vida e refletir sobre qual legado gostaria de deixar. Viajou para o Nepal. “Chorei muito durante a escalada do Himalaia, mas sozinho ali me dei conta que não lembrava quando tinha sido a última vez que havia inspirado as pessoas ao meu redor”, disse Ziller, durante palestra nesta quinta-feira (06/12) no Festival de Inovação e Cultura Empreendedora (FICE), realizado por Época NEGÓCIOS, Pequenas Empresas & Grandes Negócios e Valor Econômico.

“Na escalada, descobri que há uma matriz pessoal que todo mundo é capaz de resgatar dentro de si e que pode ser uma forma de se conectar com as pessoas e com o trabalho, sem seguir aquilo que vemos nos livros de RH”.  A matriz de Ziller, defendida na palestra para construir uma “vida criativa”, envolve cinco princípios: “ambiente produtivo, mais sim/menos não, conhecer gente, rock’n’roll e desenvolver habilidades”.

Essa matriz não estava clara ou pronta quando ele voltou do Himalaia – foi preciso descobri-la, em um processo que ele define como “design thinking pessoal”.  Envolveu revisitar sua trajetória de vida e descobrir em quais momentos ele havia sido capaz de inspirar os outros. Lembrou da época na qual escalava a Serra de São José, em Minas Gerais, com os amigos do Exército para tocar violão, de quando sua banda abriu o show do Iron Maiden para 40 mil pessoas, dos tempos de efervescência cultural que viveu em Brighton (Inglaterra) e de todos os projetos profissionais que surgiram após ele dizer “sim” a um convite inesperado.

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Diante desses insights, Ziller percebeu que um ambiente produtivo – construído no silêncio das montanhas ou no rock’n’roll de Brighton – fazia toda a diferença na sua forma de pensar. Para um publicitário de formação, em uma área onde a criatividade é a exigência primária, esta foi uma revelação importante. ”No trabalho, temos a mania de querer ser o mais criativo. E, nessa obsessão, a grama do vizinho sempre vai ser mais verde. Esquecemos que, antes de sermos criativos, precisamos ser produtivos”, diz. “Ambiente produtivo muda cognição cerebral, o modo de pensar, a forma como lidamos com o nosso trabalho”.

O ambiente produtivo, porém, não basta se as pessoas não estiverem dispostas a desenvolver novas habilidades e se reinventar. “As empresas hoje contratam por habilidades e não por formação. Então, por que é que a gente continua se formando em algo, trabalhando nisso e morrendo com isso? Não é preciso pedir demissão para se reinventar. A maior mudança está dentro de nós”.

Essa mudança, na vida de Ziller, também envolveu a capacidade de dizer mais sim a convites e a disposição de sempre querer conhecer pessoas (hoje, ele afirma ter 2,1 mil contatos telefônicos ou “2,1 mil oportunidades”). No dia a dia, na sua casa e no trabalho, Ziller brinca com os filhos que é preciso tomar a “vitamina do rock’n’roll”. “Não tem a ver com música, mas sim com o espírito das coisas. Tem a ver com olhar ao nosso redor e questionar: isso está errado, vamos fingir mesmo que está tudo bem?”. Na prática, defende Ziller, essa vitamina (fictícia) faz com que as pessoas não deixem de pensar, busquem novos caminhos e não fiquem apenas lamentando a vida com os colegas de trabalho.