As lições do jovem de 32 anos que criou o primeiro unicórnio de Hong-Kong

“Apenas comece. Você não chegará a lugar algum se não começar”. A frase é do empreendedor asiático Steven Lam. Ele tentou executar uma ideia de negócio aparentemente simples, mas no caminho viu outro problema que podia ser resolvido e deu um passo atrás. Com isso, levou o negócio para seis países e criou a primeira startup a valer US$ 1 bilhão em Hong Kong. O unicórnio em questão é a GoGoVan, empresa de entregas expressas — com vans e caminhões — que possui 2 mil funcionários e uma rede de 8 milhões de motoristas em 300 cidades.

A startup, que afirma ter criado o primeiro aplicativo de entrega de serviços/produtos no país, foi fundada com capital inicial de US$ 2,5 mil e cresceu tanto que recebeu investimentos — incluindo Jack Ma, fundador do Alibaba — até se fundir, no ano passado, com a empresa chinesa de logística 58 Suyu. Por trás dessa história de sucesso, está Lam.

O empreendedor, que vem de uma família de baixa renda, largou o colégio para tentar ganhar dinheiro quando ainda era jovem. Ele voltou a estudar quando mudou-se para os Estados Unidos e foi aceito em uma faculdade comunitária na Califórnia. Após um bom desempenho por lá, conseguiu entrar na Universidade da Califórnia em Berkeley e se formou em administração. Em entrevista ao South China Morning Post, Lam conta que se sustentava nos Estados Unidos vendendo produtos eletrônicos, cachorro-quente e trabalhando em restaurantes. Até que em um dia, quando entregava comida para um restaurante chinês, teve uma ideia de negócio: vender anúncios de publicidade dentro das caixas que embalam a comida.

O ano era de 2013 e ele voltou a Hong Kong junto com dois colegas que seriam seus parceiros na empreitada. Começaram a contatar empresas de logística para oferecer a ideia até perceberem que elas não tinham um serviço estruturado. Como Lam contou em entrevista à CNBC, cada empresa de entrega possuía um número limitado de motoristas cadastrados, embora houvesse muitas vans disponíveis que permaneciam ociosas e estacionadas nas ruas. E as empresas se comunicavam com os motoristas por radiofrequência, o que muitas vezes, atrasava a entrega.

Ao procurar uma solução, o trio percebeu rapidamente que poderia trabalhar com muito mais eficiência se consolidasse os motoristas mais confiáveis em uma única plataforma. “Nessa época, eu nem sabia o que era Uber. Começamos a formular nosso produto por conta própria”, contou Lam a CNBC. Eles resolveram mudar a ideia de negócio original e criar, então, uma plataforma para conectar motoristas e entregas sob demanda. Começaram criando pequenos grupos no Whatsapp — na época, os grupos eram limitados a 10 pessoas. Juntaram as economias, contrataram um engenheiro e um designer e montaram, assim, a primeira versão da plataforma da GoGoVan. 

“Quanto mais falamos com os motoristas, mais percebemos que eles estavam insatisfeitos com o sistema de radiofrequência”, disse Lam. “E assim fomos estúpidos o suficiente para continuar”. Estúpidos porque faltava dinheiro para crescer e eles quase faliram, diz Lam. Foram salvos por um financiamento que conseguiram de US$ 12,8 mil. O negócio então cresceu, chamou atenção de fundos e recebeu investimentos milionários a partir de 2014. Até virar um unicórnio com a fusão com a 58 Suyu. 

Na jornada, Lam, hoje com 32 anos, aprendeu que “não existe timing perfeito”. “O que é perfeito? Na maioria das vezes não sabemos. Se não sabemos o que é perfeito, por que precisamos de um timing ideal?”. Ele também gosta de citar uma lição de Jeff Bezos, da Amazon, que carrega para tomar decisões. “Eu só preciso de 70% das informações. Se esperarmos 100% das informações para tomar uma decisão, é tarde demais. Alguma decisão é melhor que nenhuma”.