Dos palanques as redes sociais, a estratégia dos políticos é digital

Segundo estudos mais de 48 países foram afetadas por campanhas que influenciaram os eleitores em polêmicas políticas e manipularam o debate público nas redes sociais. Segundo relatório divulgado pelo Instituto de Internet da Universidade de Oxford.

Aqui no Brasil as empresas privadas e partidos políticos foram os maiores influenciadores das discussões on-line

Pesquisadores também mapearam a manipulação de acordo com as organizações responsáveis por praticá-la. No caso do Brasil, as empresas privadas (três ou mais) e políticos e partidos (dois) foram os maiores influenciadores do debate público nas redes sociais durante as eleições de 2010, período analisado pela universidade.

As agências do governo, organizações civis e os próprios cidadãos também foram considerados responsáveis diretos pela manipulação das discussões ocorridas na internet. Nas Filipinas em 2016 e nos EUA em 2008, houve influência de todos esses atores definidos pela pesquisa – os únicos dos 48 países analisados em que isso aconteceu.

De acordo com o relatório, as tropas cibernéticas utilizam uma variedade de técnicas para espalhar suas mensagens e conduzir o debate na internet. Uma dessas estratégias é o uso massivo de “comentaristas” que se engajam ativamente em conversas e discussões com usuários verdadeiros.

Estes comentaristas atuam em diversas plataformas diferentes, incluindo blogs, sites de notícias e, claro, redes sociais. Segundo a universidade britânica, há evidências de que os governos e partidos políticos usam essa ferramenta para manipular o debate na internet de três maneiras: espalhar propagandas favoráveis a seus pares; atacar e difamar a oposição; desviar o foco das discussões para assuntos menos relevantes.

A universidade encontrou relatos de campanhas de trolling que visavam dissidentes políticos, membros da oposição ou jornalistas em 27 dos 48 países da amostragem.

Eleições no Brasil

Além disso, o estudo concluiu que a atuação dessas tropas cibernéticas normalmente se dá por meio de contas falsas nas redes sociais. Esses perfis também são usados para criar, disseminar e compartilhar notícias falsas (as famosas fake news ) em pelo menos 46 dos 48 países monitorados pelos britânicos.

Contas automatizadas – também chamadas de bots , referência a robots (robôs) – são basicamente softwares ou códigos desenvolvidos para copiar o comportamento de um ser humano nas redes sociais. Elas podem manipular o debate político de diversas maneiras, seja divulgando fake news durante as eleições ou fabricando uma falsa sensação de popularidade de um candidato ou ideia específico.

Um bot é um perfil falso – mas um perfil falso nem sempre é um bot . Em muitos casos, segundo o estudo, pessoas reais mantêm contas falsas em redes sociais para atingir objetivos de manipulação similares, normalmente idealizados por equipes que gerenciam uma série de outros perfis.

Embora as informações sobre o tamanho da operação das tropas cibernéticas sejam limitadas, a pesquisa da Universidade de Oxford traz uma estimativa de quanto essa prática custa e como os envolvidos cooperam entre si.

Manter essas tropas cibernéticas demanda um alto investimento. Em muitos países, segundo o relatório, há evidências de que o próprio governo direciona fundos específicos para conduzir guerras de informação contra adversários estrangeiros e até mesmo nacionais nas redes sociais.

Um número crescente de partidos políticos está contratando empresas de relações públicas e análise de dados para espalhar desinformação, lançar bots e iniciar campanhas de trolling . A prática, de acordo com os pesquisadores, é cada vez mais comum tanto nas democracias mais consolidadas quanto nas emergentes.

Em termos de tamanho, as tropas cibernéticas variam. Em alguns casos, as equipes são muito pequenas e empregam apenas algumas pessoas para propagar mensagens nas redes sociais por um curto período de tempo – durante as campanhas eleitorais, por exemplo. Outras são empresas maiores, que mantêm centenas ou até milhares de “funcionários” dedicados a manipular informações.

O Brasil, segundo o estudo, faz parte do grupo de países que tem tropas cibernéticas de capacidade média. Estas possuem forma e estratégias muito mais consistentes, que envolvem pessoas em tempo integral e durante o ano todo, e utilizam uma variedade maior de técnicas de manipulação. Cuba, Equador, Malásia, México, Irã, Coreia do Norte, Filipinas, Arábia Saudita, Sérvia, Síria, Turquia, Ucrânia, Reino Unido, Venezuela e Vietnã completam a lista.

Dos palanques as redes sociais, a estratégia dos políticos agora é digital

De acordo com a universidade, o Brasil mantém uma tropa cibernética permanente de cerca de 60 pessoas. Quanto aos investimentos, foram verificados contratos múltiplos de R$ 24 mil, R$ 130 mil e até R$ 10 milhões.

Nos EUA, segundo Oxford, 85% da população adulta usa a internet regularmente e 80% dessas pessoas estão no Facebook . Na maior parte do tempo, as redes sociais não são utilizadas para fins políticos, mas sim para interação com amigos e familiares e compartilhamento de cultura popular e vídeos bem-humorados.

O problema é que, com a possibilidade de segmentar o público-alvo e direcionar mensagens de forma rápida, barata e pouco fiscalizada, essas plataformas atraíram o interesse dos operadores políticos.

Fonte: IG