Será o fim do Vale do Silício? O começo do reinado chinês no mundo da inovação? Uma coisa é certa: os investimentos de venture capital em startups chinesas já ultrapassam os feitos na região americana. Mas daí a dizer que quem passará a dar as cartas em inovação é a China “é um exagero”, afirma Yang Ge, editora sênior do Financial Times na China, em painel no Web Summit 2018, em Lisboa.
E por qual motivo é um exagero? “A China é o líder dos seguidores[do Vale do Silício], não o verdadeiro líder”, diz Yang. Para ela, a aplicação da tecnologia nas empresas chinesas costuma replicar um modelo já existente, mas não criar algo novo.
“As companhias chinesas são muito boas em ir do 1 ao 100, mas não do 0 ao 1”, afirma. Segundo Yang, mais empresas estão conseguindo inovar, mas não numa escala capaz de desbancar o Vale do Silício.
A jornalista cita também o volume de investimentos em pesquisa e desenvolvimento (P&D). Segundo um estudo da PwC, as companhias americanas gastam cinco vezes mais em P&D do que as chinesas. Além disso, outra explicação para a China ter ultrapassado o Vale do Silício é que, apesar de este ser o principal hub de inovação dos Estados Unidos, outras regiões do país, como Boston, ganharam mais destaque nos últimos anos, dividindo as atenções.
Chadwick Xu, CEO da Shenzhen Valley Ventures e presente no mesmo painel, diz não ver tanto sentido em comparar a China com o Vale do Silício. “Do ponto de vista dos negócios, não se briga com um competidor, mas sim para conquistar clientes”.
Mas se é verdade que a China ainda está longe de liderar a inovação mundial, isso não significa que ela não esteja na fronteira tecnológica em alguns setores, como o de meios de pagamentos. William Joy, fundador da startup Video++, aproveitou a palestra para brincar com os portugueses. “Na China, você não precisa mais de uma carteira. Paga-se tudo pelo celular. Esta semana em Lisboa é que eu estou tendo de lidar com essa coisa estranha de andar com dinheiro e moeda”. Pois é. Que o mundo mudou, mudou.