Vai faltar capital humano para acompanhar a inovação tecnológica no Brasil

Vai faltar capital humano para acompanhar a inovação tecnológica no Brasil

Startups, inteligência artificial, venture capital, indústria 4.0… o vocabulário da inovação é extenso e representa uma gama de novos negócios que estão surgindo no Brasil e no mundo. Mas se a tecnologia avança a passos largos, o que dizer sobre o capital humano? No Brasil e lá fora (mas muito mais aqui), a falta de mão de obra especializada para acompanhar o avanço do mercado é uma preocupação constante.

Durante o Tech Summit, evento promovido hoje (22/11), representantes de startups, grandes empresas e venture capital concordam em um ponto: do jeito que o futuro se desenha, vai faltar gente qualificada para dar conta do avanço dos negócios brasileiros.

“Temos talentos para atuar como desenvolvedores, por exemplo, mas em pouca quantidade. Vejo o quanto a gente sofre para conseguir profissionais, com o baixo número de universidades, e isso deverá se tornar um grande gargalo em algum tempo”, comentou o fundador da Yellow, Eduardo Musa. Para ele, “o brasileiro é super empreendedor, mas montar equipes qualificadas vai ser difícil com o tempo.”

O tema surgiu na conversa após a presidente da SAP Brasil, Cristina Palmaka, lembrar dos esforços da empresa alemã para incentivar a inovação no país – inclusive com um laboratório em São Leopoldo (RS) que, segundo ela, “não deixa nada a desejar comparado a outros que temos espalhados pelo mundo”. “Tem muita gente boa indo para fora, mas muita gente boa ficando aqui”, completa.

A questão é: em número suficiente? Afinal, até mesmo países considerados na dianteira do desenvolvimento tecnológico, como Israel, vêm sofrendo com a falta de mão de obra especializada para trabalhar com tecnologia. Por lá, iniciativas envolvendo poder público, universidades e empresas estão focando em populações tradicionalmente afastadas do sistema econômico, como judeus ultraortodoxos e beduínos, para preencher as lacunas.

No debate, os presentes concordaram que suprir essa demanda futura por profissionais especializados deve envolver também a formação universitária. Mas que esse esforço está, atualmente, muito aquém do necessário. “Entrevistei recentemente pessoas que saíram da faculdade de ciências da computação sem saber programar. Hoje, não ser digital não é mais uma opção, mas ainda assim há um analfabetismo digital e cultural”, comentou a CEO da Coinwise, Juliana Cunha Assad.

Seria então o caso de evitar a saída de nossos talentos para o exterior? Para o sócio-diretor da Redpoint ventures, Anderson Thees, apesar da falta de profissionais especializados, isso não seria benéfico ao país. “Tem muito brasileiro sim indo pra fora. Mas isso é algo que nos conecta à globalização. Muita gente acaba voltando, ou traz parceiros de negócios para o Brasil, e isso é muito positivo”, disse.

Maior deficiência, diz Thees, está no movimento contrário: o de atrair os cérebros estrangeiros. “É incrivelmente difícil trazer talento de fora pra cá. É verdade que a imagem do Brasil precisa melhorar, mas ainda assim é um país de qualidades, e muita gente quer vir. Geraríamos muito mais riqueza se não dificultássemos a chegada de gente de fora ao país”, afirmou, culpando a excessiva burocracia do país pelo problema.

Startups em alta

Mas, se o capital humano representa uma preocupação para o futuro, outros elementos avançaram rapidamente no Brasil nos últimos anos, segundo o sócio da Redpoint. Para ele, já é possível notar um amadurecimento no ambiente de startups daqui.

“Hoje temos empreendedores de segundo ciclo obtendo sucesso, o que é um sinal de amadurecimento do ecossistema. Não está totalmente maduro, mas avançou a ponto de, para o nosso universo, mesmo o desempenho do PIB se tornar irrelevante. Por isso a expectativa para o futuro é muito, muito boa”, apostou.

Para se comprovar isso, afirma, basta lembrar do que significava, há poucos anos, falar em trabalhar em startups. “Explicar que você queria sair de uma grande empresa e atuar num negócio nascente era muito difícil. Mas hoje ser empreendedor e trabalhar numa startup agora é bacana, e cada vez mais gente quer isso. Antes pescávamos num aquário, agora estamos num oceano.