O que faz o valor das criptomoedas despencar?

O que faz o valor das criptomoedas despencarem

As criptomoedas estão em uma queda acelerada e duradoura. Nos últimos 30 dias, sete dos dez maiores ativos digitais em tamanho de mercado perderam pelo menos 30% de seu valor, segundo a Coinranking. A principal moeda, o bitcoin, que já chegou a ultrapassar a cotação de US$ 20 mil no ano passado, agora vale US$ 4,4 mil, baixando que seria considerado um “piso saudável” de US$ 5 mil, segundo analistas.

Mas o que, afinal, vem gerando esse mergulho das cotações? Seriam fatores conjunturais, que logo darão espaço a uma nova etapa de crescimento, ou trata-se da “queda definitiva” das criptomoedas tão esperada por quem sempre desconfiou da viabilidade delas?

Não há uma resposta definitiva, mas especialistas deste mercado apontam alguns fatores que estariam contribuindo para a queda constante desses gráficos. Alguns dos quais não são fáceis de superar.

O principal deles é a recente ofensiva da Comissão de Títulos e Câmbio dos Estados Unidos (SEC, na sigla em inglês), entidade que regula a bolsa de valores dos Estados Unidos, sobre os processos de ICO (emissões iniciais de moedas) que se multiplicaram no último ano. A SEC autuou duas empresas (a fintech Airfox e a Paragon Coin, de soluções logísticas para a indústria da maconha legalizada) pela comercialização de títulos de crédito não registrados previamente, e ambas deverão pagar US$ 250 mil para restituir investidores que compraram os títulos não listados.

O movimento da SEC era esperado há algum tempo, já que, na onda de ICOs, nunca ficou claro que moedas poderiam ser classificadas ou não como títulos financeiros (a exemplos de ações e debêntures tradicionais) e quais são meramente tokens de utilidade. Agora, espera-se que a entidade intensifique a ação contra os emissores de moedas para acabar com esse limbo que pode beneficiar “criptoespeculadores”, e, por isso, investidores estariam se livrando de seus tokens.

Mas até por ser algo esperado, não se pode afirmar categoricamente que as punições da SEC tenham causado a queda brusca das cotações das criptomoedas, como aponta artigo da Fortune que analisa o cenário atual desse mercado. “Qualquer pessoa prestando atenção ao espaço regulatório [das criptomoedas] sabia que isso aconteceria, e muito desse risco já deveria estar incluído no valor dos tokens até agora”, aponta a revista.

Outros possíveis motivos apontados pela Fortune são a divisão da moeda bitcoin cash em outras duas (quando uma mudança no código da criptomoeda cria uma nova versão dela, em um blockchain separado), em um processo considerado confuso e com problemas acarretados a quem detém seus tokens; e relatórios de fabricantes de chips como Nvidia e Advanced Micro Devices, que apontaram queda acentuada nas vendas de equipamentos usados para mineração de moedas digitais.

No primeiro caso, o bitcoin cash já era uma “descendente” do bitcoin original, e agora deu origem ao bitcoin cash ABC e bitcoin cash SV (não se preocupe se parece uma confusão, isso acontece porque é uma confusão). Processos de separação, que podem ser baseados em uma melhoria de segurança digital, exigem consenso de toda a comunidade de investidores, mineradores e até mesmo negociadores de criptomoedas, para que não se perca valor após o processo. Mas, nesse caso, algo parece ter irritado os detentores de moedas, já que a bitcoin Cash SV perdeu nada menos que 71% do valor desde sua criação, de acordo com a Coinranking.

“Isso ‘machuca’ o preço do bitcoin cash como um todo, e possivelmente contagia o restante do mercado. Mas essa moeda sempre foi disfuncional, e o mundo das criptomoedas já passou por divisões antes. Então é difícil como isso pode ter disparado o mergulho das cotações”, aponta a revista.

Já a queda nas vendas de hardware para blockchain e mineração de criptomoedas, embora contribua para desanimar os investidores, poderia ser mais um reflexo da falta de confiança neste mercado do que a causa dela, sugere a Fortune.

Investigação

Esses fatores, sejam isolados ou combinados, poderiam levar a cenários ruins, mas recuperáveis. Mais preocupante, entretanto, pode ser a descoberta de que os valores das criptomoedas vinham, nos últimos anos, sendo inflados à base de especulação em grande escala. A possibilidade é citada em um artigo da Bloomberg, que aborda uma investigação em andamento no Departamento de Justiça dos EUA.

O governo americano desconfia que uma outra criptomoeda pode ter sido usada para elevar artificialmente o valor do bitcoin aos altos números vistos em 2017. Citando fontes anônimas, a Bloomberg revela que a investigação envolve a criptomoeda Tether e a negociadora de ativos Bitfinex, que pertencem ao mesmo grupo baseado em Hoing Kong, também chamado Tether.

A suspeita é que a companhia tenha usado sua própria moeda para comprar grandes quantidades de bitcoins em momentos de queda, elevando sua cotação e depois recebendo mais pela comercialização deles para clientes terceiros. A operação coincidiria, segundo os denunciantes que levaram o Departamento de Justiça a investigar a possibilidade, com o momento em que o bitcoin ultrapassou os US$ 20 mil em valor.

A moeda Tether é comumente utilizada na compra de outras, diz a Bloomberg, devido à sua maior estabilidade em relação às demais, fruto de seu atrelamento ao dinheiro (de “verdade”) que a sua criadora possui. A companhia foi intimada a esclarecer se de fato possui esse lastro para os ativos digitais, e também a suspeita de manipulação do valor do bitcoin, mas a investigação corre em sigilo.

McAfee confiante

Há, porém, quem esteja certo de que o momento de queda é passageiro, e as criptomoedas se recuperarão em breve. Um dos mais célebres defensores dessa tese é John McAfee, empresário criador do célebre antivírus e já tradicional defensor das moedas digitais. Em uma série de tuítes publicados na última terça-feira (20/11), com uma linguagem no mínimo excêntrica, ele afirmou que, com 73 anos de idade, já viu momentos semelhantes em muitos mercados, mas que eles acabam se normalizando.

“Mercados urso são como o inverno. Sempre é sucedido de uma gloriosa primavera”, afirmou, entre muitos palavrões, citando o termo normalmente usado para designar mercados que tendem a receber fortes impulsos de cima para baixo.