Precisamos nos acostumar com o que a tecnologia fez com a opinião pública

Precisamos nos acostumar com o que a tecnologia fez com a opinião pública

Em um mundo conectado, acessar informações e emitir opiniões sobre política é cada vez mais simples. Mas, passadas as eleições, o desafio é estimular que as pessoas continuem atentas ao que acontece nessa esfera — e ao que estão fazendo os candidatos eleitos.

“A tecnologia ajuda e os movimentos estimulam. Mas, se cada um de nós não tomar a consciência de que pensar sobre política não deve ocorrer só às 10h da manhã de um domingo a cada quatro anos, as coisas nunca vão mudar”, diz Leandro Machado, cientista político e um dos idealizadores da plataforma “Tem meu voto”, que ajuda o eleitor a escolher em quais políticos votar.

Machado integrou a roda de debate do Vototalks Cidadania, realizado nesta sexta-feira (23) pela Votorantim. O evento discutiu o papel de iniciativas e movimentos no estímulo à participação política. Também participaram Mario Mello, fundador da startup Poder do Voto, e Humberto Dantas, cientista social e autor do Guia do Voto.

O cientista político também abordou a crescente polarização que tomou conta da internet e das redes sociais. “Esse é o novo normal. É o poder que a tecnologia deu para as pessoas, que antes precisariam de muitos recursos para produzir e emitir opiniões [para o público], afirma. Seria necessário “acostumar-se” e desenvolver iniciativas que explorem o potencial da tecnologia para estimular participações mais construtivas e ativas.

Essa é a proposta do “Tem meu voto” e do “Poder do Voto”. A primeira plataforma permite aos usuários encontrar políticos que combinem (ou deem “match”) com seus interesses e critérios. Já a segunda possibilita “seguir” os passos dos políticos eleitos, acompanhando seus votos no Congresso.

“Se podemos pedir táxi, ver filmes e acompanhar nossos filhos com o celular, por que não criar uma ferramenta de cobrança e aproximação da política?”, diz Mello. Em um contexto de desconfianças e críticas à tecnologia, ele diz que a questão central deve ser o uso que se faz de recursos como os algoritmos, que selecionam o que aparece para cada internauta nas redes sociais.

Para o cientista social Humberto Dantas, também é preciso ter em mente a importância do contato com valores e pensamentos diferentes. “A sociedade não é a continuação do que temos nas nossas casas. É uma ruptura com o que idealizamos”, diz. Por isso, a educação é tão importante. “A maior conquista que pode existir na educação de uma criança é a colocar em contato com valores diferentes, para ela entender a riqueza do que há na sociedade”.