O que podemos aprender com líderes populistas

O que podemos aprender com líderes populistas

O populismo tem ganhado espaço em vários países, a partir do descontentamento das populações com o establishment. Os reflexos disso são muitos. Na esfera política, vimos a aprovação do Brexit, a vitória de Donald Trump nos Estados Unidos e a guinada conservadora na Itália. “Nos últimos dois anos, na maioria das eleições que vivenciamos, as pessoas votaram [não a favor de uma força específica], mas contra o establishment, disse Ngaire Woods, professora de economia e política internacional da Universidade de Oxford.

Ao invés de nos assustarmos, deveríamos tirar lições sobre o motivo de líderes que apelam ao populismo — e são conservadores sob muitos aspectos — estarem ganhando tanto espaço, defendeu Ngaire durante participação no Fórum Econômico Mundial, em São Paulo, nesta quinta-feira (15/03). “Não é possível que todas as pessoas que estão votando neles sejam estúpidas. Precisamos aprender o motivo deles estarem sendo eleitos.”

Para Ngaire, há três razões primordiais. A primeira delas é porque esses líderes escutam as pessoas, sabem quais são suas reais demandas e têm ciência dos temas com que a população se importa. “Quando um candidato como Bolsonaro ganha força aqui, e diz que vai oferecer uma arma para cada cidadão, ele está falando com a maioria da população brasileira, que ganha menos de R$ 2 mil por mês e que sofre com a falta de segurança”, disse referindo-se ao pré-candidato brasileiro às próximas eleições.

O segundo motivo pelo qual fazem sucesso é a forma com que se comunicam. “Todo mundo diz que os populistas têm mensagens simplistas, slogans simples como ‘Make America Great Again’, do Trump. Mas essas mensagens são eficazes”, diz. Para a professora, líderes que querem ganhar espaço — seja político ou não — precisam investir em novas linguagens, precisam gastar tempo descobrindo como conseguirão se comunicar de forma efetiva.

A terceira razão, segundo Ngaire, é que esses líderes têm uma missão transformacionista. Eles sabem qual política precisam entregar para a população, defende. “Dizer que a inflação está controlada não é uma visão que mobiliza as pessoas.” Líderes precisam saber atrair a população com uma missão de transformar algo na vida delas. É a estes três fatores, aplicados de forma conjunta, que Ngaire acredita que deve-se o sucesso de líderes populistas, que conseguem mobilizar tantas pessoas pelo mundo. “Se um líder diz que lidera e ninguém o segue, ele não é um líder.”

Além de lecionar economia em Oxford, Ngaire dirige na mesma universidade a Blavatnik School of Government. O objetivo da escola é formar pós-graduados nas competências e responsabilidades do governo, para atuarem na esfera pública. Também dirige o Global Economic Governance Programme, criado em 2003 para desenvolver pesquisas e debates sobre como os mercados e as instituições globais podem atender melhor às necessidades das pessoas nos países em desenvolvimento.

No Fórum, ela defendeu que as empresas precisam ajudar os governos a criar um novo modelo econômico, que priorize de fato o lado social. “Por 30 anos, as economias resolveram seus problemas com crescimento econômico. Mas isto não funciona mais, a renda básica per capita está caindo, as pessoas estão com a percepção de que a corrupção leva tudo que ganham”, disse.

Para Ngaire, é hora de falarmos menos em política e mais em “dignidade”. “Este novo modelo econômico não precisa só redistribuir lucros — nem gosto muito da ideia de renda básica. Precisa ser ter mais a ver com conseguir dar uma vida digna, na qual as pessoas possam participar, onde seus filhos tenham a chance de ter acesso a uma boa educação, onde haja planos para reduzir a pobreza.”