Conheça o time de jogadores de videogame formado por idosos

Conheça o time de jogadores de videogame formado por idosos

Um time de jogadores suecos de videogame vem atraindo milhares de seguidores no Twitch, plataforma online usada para a transmissão ao vivo de partidas de games. A faixa etária média do grupo, formado por aposentados, é de 67 anos –os mais velhos têm 75 anos.

Eles respondem pelo nome de “Silver Snipers“e foram uma das atrações no festival digital internacional Dreamhack, que aconteceu em junho, em Jönköping, na Suécia. Viajaram vários quilômetros até Jönköping para jogar Counter Strike: Global Offensive (CSGO) –um dos jogos de videogame mais populares do mundo– diante de uma plateia imensa.

O grupo é integrado por Oivind Toverud, conhecido no circuito como Windy (Ventania, em tradução livre), Abbe Drakborg, ou Birdie (Passarinho), Inger Grotteblad, ou Trigger Finger (Rápido no Gatilho), Per-Arne Indefors, ou Young Gun (Arma Jovem) e Monica Indefors, ou Teen Slayer (Matadora Adolescente).

ENCONTRO DE GERAÇÕES

O cenário é uma mistura de centro de convenções com danceteria – grandes ambientes escuros, ao som de house music. De vez em quando, flashes de luz rompem a escuridão. Vários palcos encontram-se distribuídos pelas salas. Atrás deles, há telas imensas.

Reunidos em frente aos palcos, estão grupos de jovens –a maioria, do sexo masculino. A idade máxima dos presentes não passa dos vinte e poucos anos. “Essa moçada jovem adora a gente”, diz Inger. “Por onde andávamos (no Dreamhack), eles pediam para tirar foto. ‘Por favor, podemos tirar uma foto com vocês? Vocês são tão incríveis, adoramos vocês’. Me senti uma estrela!”, completa.

Tommy Ingemarsson, treinador da equipe, reflete sobre o fascínio que os veteranos exercem sobre o público jovem. “Acho que alguns deles têm curiosidade em vê-los jogar. Outros querem simplesmente se divertir. E outros vêm dar apoio aos jogadores”, avalia Ingemarsson, dez vezes campeão do mundo em Counter Strike, atualmente aposentado.

“Eles pensam: ‘Um dia também vou ficar velho e quero continuar a jogar videogames’. Acho que há uma cominação de razões.” Segundo ele, “a competição de games é para todos”. “Não importa a idade, o gênero ou a nacionalidade”, acrescenta.

E é por pensar assim que decidiu ser o treinador da equipe. “Eu simplesmente adoro a ideia, e queria fazer parte. Claro que foi um grande desafio. Mas fiquei realmente surpreso, porque eles tinham tanta vontade de aprender coisas novas. Você podia sentir a paixão deles logo no primeiro treino.”

Cada um dos “Silver Snipers” tem, por sua vez, uma motivação para o que faz. “Quando eu tinha 59, ou seja, há sete anos, descobri que tinha um tumor no cérebro”, conta Inger.

“Era um tumor bem grande, do tamanho de um mouse de computador. Estava aqui, na frente da minha cabeça. Era benigno, mas se não fosse retirado, eu morreria aos poucos. Então, (os médicos) fizeram uma operação de nove horas e extraíram o tumor.”

“Antes da cirurgia, eu pensei: Se eu sobreviver, vou fazer o que gosto, porque você só tem essa vida. Essa é minha mensagem para todo mundo: a vida é curta, faça o que você gosta. E jogar videogame é ótimo para quem gosta de se divertir,” completa.

A BATALHA DOS VETERANOS

Os “Silver Snipers” viajaram para Jönköping para participar de uma verdadeira batalha de titãs. Foram enfrentar seus arquirrivais, os veteranos finlandeses “Grey Gunners”. Os dois times se digladiaram pela primeira vez na capital finlandesa, Helsinque. “Eles são o segundo time veterano no mundo. Nós somos o primeiro. Eles jogaram muito bem (em Helsinque)”, disseram os “Silver Snipers”.

O embate aconteceu diante de uma plateia lotada. Na sala escura, enquanto as duas equipes jogavam, o público acompanhava vidrado, em uma tela gigante, cada ação dos jogadores.

Eles acabaram sendo derrotados pelos “Grey Gunners” –perderam por 16 a 1. Mas não se deixaram abalar.
“Eles jogaram muito bem hoje, treinaram muito e nós não jogamos bem o suficiente. Mereceram ganhar. Eu espero enfrentá-los de novo– e aí nós vamos aniquilá-los. A gente também aprende com a derrota”, disse Inger.

“Não sinto vergonha, me sinto apenas uma avó muito orgulhosa.”  Per-Arne também levou a derrota com bom humor: “Eu disse à minha esposa: ‘Sabe por que nós perdemos? Porque você não estava ao meu lado. Da última vez (que jogamos), você estava sentada ao meu lado’.”

E prosseguiu: “Mesmo perdendo, me alegra pensar que conseguimos tocar a alma de uma ou duas pessoas. Eles vêm, nos abraçam e dizem: ‘Da próxima vez, da próxima vez’. E é isso mesmo. Pode esperar, estaremos de volta”, disse o veterano.

Eventos como o Dreamhack acontecem em vários países do mundo e acabam sendo um ponto de encontro para esse público e uma indústria em expansão –um relatório recente mostra que a indústria global de games gerou mais de US$ 100 bilhões em 2017.

Esse negócio bilionário tem, no entanto, um aspecto preocupante. No início deste ano, a Organização Mundial de Saúde (OMS) anunciou que vai incluir o vício por videogame na nova versão da Classificação Internacional de Doenças (CID) –a lista oficial de doenças publicada pela entidade. Ou seja, o vício passará a ser tratado como um transtorno de saúde mental.

Por outro lado, alguns estudos indicam que jogar videogame – em particular, os que envolvem atividade física –pode trazer benefícios à saúde física e mental, inclusive na terceira idade. Segundo pesquisadores da Universidade de Montreal, no Canadá, jogar Super Mario 64 em 3D pode ajudar pessoas de 55 a 75 anos a combater perdas moderadas de cognição e até prevenir o Mal de Alzheimer.

Não sabemos se podemos dizer o mesmo em relação ao Counter Strike: Global Offensive. Mas Inger afirma que, para ela, o CSGO apresentou um benefício especial: o game a aproximou da família.”Meus netos jogam bem e são meus treinadores pessoais. Acabamos ficando mais amigos.”

CSGO: SIMPLES DE ENTENDER

“Um campo de futebol virtual”. É assim que Ingemarsson define o CSGO. O jogo consiste em confrontos entre duas equipes, formadas por “terroristas” e “contraterrorista”. Existem pontos no mapa que você precisa proteger ou atacar.

Existem regras mais complicadas, mas o mais importante é o seguinte: “O mais bacana do Counter Strike é que é muito fácil, até para o espectador começar a curtir o jogo depois de pouco tempo”.

Fonte: FOLHA