2018 foi um ano marcado por grandes crises em grandes negócios. Enquanto alguns escândalos e conflitos já viram a poeira baixar, outros devem continuar a assombrar executivos e líderes em 2019. Abaixo, listamos seis líderes empresariais ou governamentais que devem enfrentar desafios – novos ou não – este ano.
Elon Musk, CEO da Tesla
O empresário foi um dos principais protagonistas de episódios negativos (para não dizer surreais) em 2018 – com direito a chamar um dos mergulhadores envolvidos no resgate na Tailândia de pedófilo, e bagunçar o mercado de ações com o anúncio (infundado) no Twitter sobre a intenção de abrir o capital da Tesla. Por conta do último episódio, o executivo foi afastado da presidência do conselho da empresa e teve de pagar uma multa de US$ 40 milhões.
Para 2019, o executivo deve esperar desafios que vão além de sua própria credibilidade. Após se desdobrar para aumentar a produção do carro Model 3, a Tesla ainda está devendo o lançamento da versão mais barata – anunciado como o produto que levaria os veículos elétricos para o “mainstream”. Na balança, há ainda o declínio dos incentivos federais dos EUA para compradores de veículos elétricos. Segundo a Bloomberg, o crédito fiscal de US$ 7,5 mil oferecido para a compra dos modelos da Tesla será cortado pela metade em janeiro, e voltará a ser cortado pela metade em julho.
Mark Zuckerberg, CEO do Facebook
2018 também esteve longe de ser fácil para o fundador do Facebook, com a rede social envolvida em uma sequência de escândalos. O principal deles envolve a obtenção ilícita dos dados de 50 milhões de usuários pela empresa de inteligência Cambridge Analytica. A atuação foi responsável por influenciar as eleições americanas e o referendo do Brexit, no Reino Unido. O caso levou o fundador a testemunhar e admitir erros no Senado dos EUA.
Outras revelações vieram à tona nos meses seguintes. Os casos envolvem o vazamento das fotos privadas de milhões de usuários, passam por um ataque ao megainvestidor George Soros e chegam à revelação de que a rede permitiu que empresas acessassem dados de terceiros e até mesmo as mensagens privadas de usuários. Houve, ainda, a pressão diante do papel do Facebook na disseminação de notícias falsas no Brasil.
A crise de confiança em torno da rede social (e da postura de Zuckerberg) fez o CEO ser pressionado a deixar a presidência do conselho da empresa – o que ele nega pretender fazer. O empresário também foi o bilionário que mais perdeu dinheiro em 2018, com a queda, até o momento, de US$ 19,5 milhões em seu patrimônio líquido. Em 2019, ele terá o desafio de recuperar a confiança sobre o Facebook e sobre sua própria atuação – ao, principalmente, intensificar a segurança e privacidade oferecidas pela rede. À Forbes, Zuckerberg afirma que, após três anos de “pesados investimentos”, os dois fatores finalmente devem atingir os níveis ideiais no final deste ano.
Masayoshi Son, CEO do SoftBank Group
Em outubro, o mundo se chocou com o desaparecimento e a morte do jornalista saudita Jamal Khashoggi. O envolvimento de autoridades do governo da Arábia Saudita no crime impactou não apenas o cenário político internacional, mas também o mundo dos negócios. Isso porque, como parte de um programa de modernização, a monarquia investe pesadamente em tecnologias e startups inovadoras – como WeWork, Uber e Katerra.
E é aí que entra o nome (e os negócios) de Son. A participação do governo saudita nas iniciativas acontece por meio do SoftBank Vision Fund, fundo de venture capital criado pelo gigante japonês. Do capital anunciado de US$ 100 bilhões para investimentos, US$ 45 bilhões vêm do Fundo de Investimento Público saudita, principal financiador da iniciativa.
Após o crime, a multinacional – e os próprios executivos das startups envolvidas – passou a ser questionada sobre as relações com o reino, que também impactou, inclusive, as ações do grupo. Em resposta, segundo a Fast Company, o SoftBank justificou a continuidade da iniciativa alegando que “por mais horrível que tenha sido esse episódio, não podemos virar as costas às pessoas sauditas”. Se os questionamentos se seguirem, segundo aponta a Bloomberg, a situação pode prejudicar o impacto do capital do fundo e seu papel na valorização das startups.
Evan Spiegel, CEO da Snap Inc.
De visionário a “sem rumo”. Este é um breve resumo da forma como Spiegel, co-fundador e CEO da Snap Inc., dona o Snapchat, passou a ser visto desde que o aplicativo ganhou e perdeu sua popularidade. Impactado pela concorrência com o Instagram e por uma mudança de design que desagradou o público, o app viu o número de usuários declinar, assim como o valor de suas ações – hoje, valem cerca de 30% o precificado no IPO no ano passado.
A empresa também vem sofrendo com a perda de talentos, incluindo o diretor de estratégia, o vice-presidente de conteúdo e ao menos outros seis executivos, segundo a revista Vanity Fair. Há ainda os planos do “inimigo”: em outubro, segundo a Recode, Mark Zuckerberg disse acreditar que os Stories se tornarão ainda mais populares, recebendo mais postagens do que o próprio feed do Instagram e o Facebook. Este e outros fatores colocam nas costas de Spiegel a responsabilidade de definir um plano efetivo – e ágil – para a recuperação da plataforma diante dos usuários, funcionários e investidores.
Mary Barra, CEO da General Motors
2018 foi um ano complicado para a GM. A montadora, junto a outras grandes companhias dos EUA, entrou na briga contra o efeito das políticas comerciais de Donald Trump. Seu temor envolvia especialmente a possibilidade de saída dos EUA do Nafta ou a imposição de tarifas de importação de veículos.
O presidente argumenta que a renegociação do acordo, acertada com o Canadá e o México, foi feita para favorecer e proteger o setor automobilístico nacional. A GM, em contrapartida, anunciou o fechamento de linhas de montagem, a demissão de milhares de funcionários e o corte na produção de modelos nos Estados Unidos. O objetivo seria economizar e se adaptar às mudanças do mercado.
A decisão foi repudiada por Trump, que passou a exercer forte pressão sobre a montadora e sua CEO, Mary Barra. O presidente ameaça “cortar todos os subsídios” da GM e chegou a dizer a Barra que a companhia está “brincando com a pessoa errada”, segundo a CNBC. Ainda não está claro como o governo pode restringir os créditos. Além de Trump, a empresa também terá de lidar com reações como a do sindicato trabalhista United Auto Workers, que prometeu usar “todas as vias legais, contratuais e de negociação coletiva” para combater as mudanças, segundo a revista Fast Company.
Mark Carney, governador do Banco da Inglaterra
A crise em torno do Brexit pode colocar Carney na linha de fogo. O economista é governador do Banco da Inglaterra e presidente dos comitês de Política Monetária, Política Financeira e de Regulamentação Prudencial do país. No caso de o Reino Unido deixar União Europeia sem um acordo, ele será um dos principais responsáveis pelos esforços para reparar o dano. Se o processo ocorrer “suavemente”, por outro lado, a instituição ainda deverá ter que mudar rapidamente sua postura de combate à crise, segundo uma análise da Bloomberg.