No mundo multiplicam-se os engenheiros que se dedicam a criar robôs tão parecidos com o ser humano que chegam a causar desconforto, o chamado “uncanny valley” – a sensação de repulsa ao encontrar uma imagem artificial absurdamente realista.
É o caso do SEER (Simulative Emotional Expression Robot, ou Robô Simulador de Expressão Emocional, em tradução livre), um protótipo criado pelo japonês Takayuki Todo e que foi apresentado nesta semana durante uma feira de robótica no Canadá. A máquina é capaz de reproduzir as expressões faciais humanas de quem a observa.
Segundo o relato de Devin Coldewey, repórter do site TechCrunch que esteve no evento e viu SEER de perto, o robô é capaz de imitar até os menores e mais sutis movimentos da face do observador, desde a abertura das pálpebras até a flexão da sobrancelha. Com exceção de um outro glitch nos dados que faz a face robótica travar, é claro.
O SEER é apenas um pequeno busto, que cabe na palma de uma mão, e opera a partir de uma série de pontos articulados e uma câmera alimentada por algoritmos de reconhecimento de imagem, que identifica o olhar e a expressão de qualquer pessoa próxima e o reproduz nas engrenagens do pequeno robô japonês.
Também do Japão vem Hiroshi Ishiguro, diretor do laboratório de robótica da Universidade de Osaka. Desde 2010, ele viaja pelo mundo exibindo o seu “irmão gêmeo”, como ele mesmo diz: uma cópia robótica dele mesmo, com pele de silicone e uma inteligência artificial rudimentar para ouvir e responder perguntas em inglês.
A criação mais recente de Ishiguro é Ibuki, uma máquina que representa um garoto de 10 anos com rosto e mãos de silicone, além de um trilho no lugar dos pés. Ele até pisca involuntariamente, anda de forma espontânea e consegue detectar rostos olhando para ele por meio de câmeras posicionadas atrás dos seus olhos artificiais.
Mas robôs que se parecem com humanos não são especialidade só de inventores japoneses. Já existem empresas fazendo máquinas que passam dos limites no realismo e ganhando muito dinheiro com elas. É o caso da Engineered Arts, uma companhia localizada no condado de Cornwall, na Inglaterra, e que produz os robôs Mesmer.
A linha Mesmer é fabricada sob encomenda e pode ser adaptada para reproduzir as feições de seres humanos reais ou fictícios. Toda a construção das máquinas é baseada no corpo humano, incluindo uma coluna e vértebras artificiais com pontos de articulação iguais aos nossos. Sem falar no software que controla todo esse trabalho.
Os robôs Mesmer vêm com diversos pequenos motores que controlam pequenos gestos da anatomia, todos eles absolutamente silenciosos. Animações pré-programadas dirigem o comportamento de cada um. E há ainda uma série de sensores e algoritmos de inteligência artificial que permitem que eles interajam com seres humanos “naturalmente”.
Talvez a mais famosa representante da classe dos robôs com cara de gente seja Sophia. Criada em 2016 pela Hanson Robotics, do engenheiro David Hanson, ela já deu entrevistas para diversos programas de TV pelo mundo e até ganhou cidadania da Arábia Saudita após se apresentar para uma plateia de investidores em 2017.
Seu rosto foi modelado tendo como base a esposa de Hanson e a atriz Audrey Hepburn. Assim como os outros humanóides citados acima, ela possui dezenas de pequenos motores na face capazes de articular expressões sutis ou mais complexas. Um algoritmo de inteligência artificial toma conta das suas interações com pessoas reais.
Nem sempre o algoritmo (baseado em centenas de respostas pré-programadas para serem lidas ao som de algumas de palavras-chave) funciona bem. Sophia já deu declarações polêmicas, como a de que iria “destruir humanos” e de que “possuía alma”. Mas são apenas bugs na programação que geraram manchetes na imprensa internacional.
Mas, afinal, qual é o sentido por trás de todos esses robôs? Seria este o surgimento de uma nova espécie de seres vivos com o intuito de superar a humanidade, como em “Westworld”? Tudo leva a crer que, ao contrário da ficção, as máquinas humanóides não são muito mais inteligentes do que o app de previsão do tempo do seu celular.
Isto porque ainda estamos muito longe de criar uma inteligência artificial geral – isto é, um sistema capaz de processar informações de maneira versátil, capaz de jogar xadrez, escrever poemas e se equilibrar numa perna só, como os humanos. O que temos hoje são máquinas boas em uma ou duas dessas tarefas, não em todas.
Há empresas fazendo robôs sexuais com expressões humanas, cujo objetivo é autoexplicativo. No caso da Sophia, seu criador diz que ela pode ser usada para cuidar de idosos em casas de repouso e auxiliar pessoas em eventos ou aeroportos, por exemplo. No caso da Engineered Arts, a linha Mesmer é destinada a parques de diversão e museus e é vendida como uma ferramenta educativa.
A ideia por trás disso tudo é criar máquinas capazes de ajudar humanos, e não substituí-los, mas de uma maneira que permita ao usuário se sentir confortável. Falar com um robô que te olha nos olhos e responde às suas perguntas seria, em tese, mais intuitivo e natural do que apenas apertar botões numa caixa de metal, seus criadores defendem.
Mas existem propósitos mais filosóficos. “Para construir um robô que se pareça com um ser humano, é necessário ter um entendimento profundo do que um ser humano é. E quando precisamos explicar por que o robô não parece um ser humano, somos levados a pensar no que é que nos diferencia deles”, disse Ishiguro ao Olhar Digital numa entrevista recente.
Segundo ele, não há por que temer a estranha semelhança entre robôs humanóides e humanos naturais. Porque, “se chegar o ponto em que não for possível distinguir um robô de uma pessoa, os dois já serão a mesma coisa”, completa Ishiguro.