Problemas com inovação? Atente-se à sua equipe

Problemas com inovação? Atente-se à sua equipe

Imagine uma equipe cinco estrelas tocando uma nova iniciativa que poderia mudar o futuro da empresa. Todos estão otimistas, e a equipe aventura-se com sucesso em um território inexplorado, porém muito promissor. Aí, então, os resultados começam a demorar mais do que o esperado, e, depois de tanto tempo fora da zona de conforto, os profissionais envolvidos, apesar de seu histórico de alto desempenho, não conseguem atuar em um ambiente desconhecido.

As perspectivas da equipe mudam, e fica evidente que não conseguirá enfrentar a tempestade das inevitáveis incertezas da concretização da nova oportunidade organizacional.

Como é possível uma equipe tão boa fracassar?

No coração de muitas empresas, existe um problema mais profundo que bloqueia as transformações: a estrutura organizacional produto/função, que é eficaz nos ambientes bem conhecidos, em que a maximização da entrega de um produto ou serviço é a meta. No entanto, os projetos muito inovadores exigem da empresa a volta a um estado de maior flexibilidade. Esse desafio requer equipes formadas com base em uma nova combinação de recursos e habilidades dos funcionários.

Os grupos de trabalho capazes de realizar transformações são compostos por pessoas que apresentam, além de alto desempenho, um singular equilíbrio de habilidades e mentalidades que permite manter o foco, a agilidade e o otimismo diante de incertezas por um longo período. No fundo, nem todos os melhores funcionários têm essas qualidades.

Em nosso livro, Leading Transformation: How to Take Charge of Your Company’s Future [Liderando as Transformações: Como assumir o controle do futuro de sua Empresa, em tradução livre], destacamos certas habilidades a serem procuradas e desenvolvidas durante a formação de uma equipe encarregada de projetos destinados a promover grandes transformações. Há três características específicas que são fundamentais nesses casos.

Habilidade negativa: boa aceitação das incertezas

O termo “habilidade negativa” foi criado pelo poeta John Keats ao descrever escritores como Shakespeare, capazes de trabalhar em meio a dúvidas. Refere-se à aceitação da falta de respostas rápidas e à disposição de explorar o progresso de determinada ideia antes dos resultados concretos.

No contexto contemporâneo, a habilidade negativa pode ser vista como a capacidade de adaptar-se às incertezas, até mesmo de acolhê-las, em vez de reagir a elas com tanta ansiedade que se precise buscar, de maneira precipitada, uma conclusão definida, ainda que não seja a ideal. Embora muitos não consigam lidar com as dúvidas, aqueles dotados dessa capacidade podem agilizar a exploração do novo território e a descoberta de eventuais oportunidades a ele relacionadas.

Quem possui habilidade negativa permanece curioso e focado mesmo quando o projeto está longe de atingir o objetivo. É provável que se sinta até mesmo cativado, em vez de sobrecarregado, por essa fase da iniciativa e é exatamente isso que se busca. Esses funcionários também conseguem postergar as avaliações do resultado final e manter-se abertos a vários desfechos possíveis, em vez de se fixarem, desde o início, em apenas uma versão de sucesso.

Chaos pilots: liderança e execução de projetos em territórios desconhecidos 

Em 1991, Uffe Elbæk, político e assistente social dinamarquês, fez um empréstimo de cem mil dólares para abrir uma escola de gestão nada convencional chamada Kaospilot, cuja visão foi inspirada por um projeto anterior em que ele mesmo observou, nos alunos, um novo conjunto de habilidades para lidar com problemas indeterminados. Com isso, viu a oportunidade de ensinar essas competências a gestores empresariais defrontados com as mesmas questões. Chaos pilot [aquele que lidera em meio ao caos] é a definição perfeita para uma persona específica, essencial para as equipes encarregadas de grandes transformações.

Os chaos pilots são pessoas capazes de coordenar projetos de maneira criativa em meio a incertezas. Têm habilidade negativa, mas também outras capacidades essenciais, como a de organizar a desordem e agir. Esses gestores são capazes de conduzir a equipe adiante em um projeto apesar da instabilidade das circunstâncias.

Embora possa parecer uma maravilha ter essas características, é difícil ser chaos pilot. Aqueles que apresentam esse perfil trabalham em projetos ambíguos durante os quais, em muitos casos, passam por poucas e boas. Os que não possuem essa capacidade sucumbem rapidamente quando o ambiente do projeto se torna instável.

Os chaos pilots sempre se preocupam mais em gerar grandes mudanças do que em crescer no mundo empresarial ou conseguir mais uma estrela nas avaliações. Encontrar esse tipo de profissional pode ser difícil, além de exigir observações e avaliações embora haja alguns lugares promissores para procurar bons candidatos.

Por exemplo, procure pessoas que estejam recebendo avaliações de desempenho variadas, mas, ainda assim, sejam muito valorizadas pela empresa. Muitos têm esse tipo de apreciação porque fazem os colegas se sentirem pouco à vontade — já que muitos candidatos em potencial desafiam o status quo —, embora continuem sendo bem-sucedidos, pois têm um ótimo desempenho.

Pensamento divergente, ação convergente e comunicação influente

Por fim, há três características neuropsicológicas a se observarem na construção de uma equipe destinada a promover grandes transformações: pensamento divergente, ação convergente e comunicação influente, fundamentais para o sucesso dos projetos inovadores. Ainda que muitos apresentem uma ou duas dessas habilidades, encontrar alguém que tenha as três é mais difícil, porém seria o ideal.

A primeira delas, o pensamento divergente, é a capacidade de relacionar, de maneira singular, novas informações, ideias e conceitos normalmente distantes um do outro. Quem possui essa habilidade consegue combinar conceitos distintos de formas inovadoras e relevantes, além de descobrir novas oportunidades que outros podem deixar passar.

A ação convergente, a segunda característica, é a capacidade de trabalhar essas novas concepções com a finalidade de criar algo tangível. Embora muitos possam ter grandes ideias, são sempre aqueles com essa habilidade que irão transformá-las em produtos. Por fim, é fundamental poder expressá-las de maneira coerente, convincente e influente. Essa característica inspirará outros líderes e tomadores de decisão a acreditar nas ideias ou oportunidades inovadoras, bem como apoiá-las e concretizá-las.

Assim como grande parte das oportunidades de negócio transformadoras, os melhores membros para formar uma equipe que irá levar adiante uma iniciativa promissora são, muitas vezes, encontrados em lugares inesperados.

Todo projeto organizacional representa um momento de transformação em potencial, e toda iniciativa bem-sucedida contribui para que a empresa se afaste da rotina de operar no automático como uma máquina e se torne aquilo de que depende sua sobrevivência: uma organização flexível capaz de capturar as novas oportunidades.


Nathan Furr é Professor Adjunto de Estratégia no INSEAD.