“Quando criei a Web imaginava que as pessoas iriam criar coisas maravilhosas”

Quando criei a Web imaginava que as pessoas iriam criar coisas maravilhosas

Há 20 anos, quando a World Wide Web foi inventada, imaginava-se que na rede universal as pessoas criariam coisas maravilhosas. Afinal, em um ambiente em que se pode comunicar livremente e compartilhar informações, o que poderia dar errado? Tim Berners-Lee, inventor da web, fez essa pergunta nesta segunda-feira (05/11) durante a abertura do Web Summit. Quase todo mundo conhece a resposta. “Hoje sabemos da existência de manipulação, fraude e fake news”, afirmou.

No palco do evento, que acontece em Lisboa, Berners-Lee lançou um projeto da Web Foundation, que propõe um “contrato” para a internet. “É preciso ser um contrato, e não um manifesto, porque um contrato envolve várias partes. Todos têm a responsabilidade de promover uma mudança positiva, e todos ganham uma recompensa”,diz.

Nesse contrato, há três atores principais: governos, empresas e cidadãos. Os governos devem assegurar que todos tenham acesso à internet, mantê-la disponível a todo o tempo e respeitar o direito fundamental à privacidade. Às empresas, cabe contribuir para termos uma rede acessível a todos (inclusive no preço da conexão), respeitar a privacidade dos usuários e desenvolver tecnologias que possam ajudar a humanidade a enfrentar seus maiores desafios. Os cidadãos, por sua vez, comprometeriam-se a ser criadores e colaboradores da rede, a criar comunidades que respeitem a dignidade humana e a lutar para que a internet permaneça aberta.

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Para Berners-Lee, a característica principal da web quando ela foi criada era a universalidade da rede. “Era para ser usada por qualquer um, em qualquer linguagem, em busca de qualquer informação”, diz. Em 2019, a humanidade chega a um ponto crucial dessa história: pela primeira vez, metade da população mundial terá acesso à internet.

Mas, ao contrário do que muita gente pode imaginar, o acesso não tem crescido exponencialmente. Isso foi o que aconteceu nos primeiros anos da web – o que trouxe muito otimismo a Tim. Mas, nos últimos anos, o número de pessoas entrando na internet tem caído, conta. “Tudo o que fazemos para tornar a internet mais poderosa, torna mais difícil que as pessoas que não estão conectadas entrem nesse mundo”, diz. “Temos a obrigação de olhar para as duas metades do mundo: precisamos assegurar que a internet seja aquilo que quem é conectado quer, enquanto temos de ajudar a outra metade da população mundial a se conectar”.

Jacquelline Fuller, presidente da Google.org, uma das signatárias do contrato proposto pela Web Foundation, concorda que o marco de metade da população mundial estar conectada é importante. “Isso nos traz grandes oportunidades e desafios. Precisamos construir juntos o que queremos da internet, e lutar para que a rede se mantenha aberta e livre”, diz. Jacquelline afirmou que também é importante trabalhar para incluir as meninas e mulheres na internet: segundo ela, a população feminina no mundo tem menos chances de ter acesso à rede do que os homens.

Em seu discurso de abertura, Paddy Cosgrave, fundador e CEO do Web Summit, falou também sobre o poder da internet de criar um mundo melhor. “A tecnologia está deixando tudo de cabeça para baixo. Tudo o pensávamos saber sobre política, trabalho e até mesmo sobre a vida está mudando”, afirma Cosgrave. Segundo ele, o evento, que está em sua décima edição, é uma oportunidade para que empreendedores e profissionais ligados à tecnologia discutam qual é o futuro que querem criar.

O secretário-geral da Organização das Nações Unidas, António Guterres, defendeu também a necessidade de usar a tecnologia para lidar com os maiores desafios que o mundo enfrenta atualmente. “Precisamos maximizar o impacto positivo da tecnologia, e ao mesmo tempo diminuir os riscos”, afirma. “A internet deu voz a uma população historicamente silenciada, mas por outro lado perpetua os discursos de ódio, a polarização”.