Fusão nuclear: o que é, e por que está atraindo grandes investidores

Fusão nuclear: o que é, e por que está atraindo grandes investidores

Meios de geração de energia limpa e renovável como o eólico e a solar fotovoltaico crescem mundialmente e representam, hoje, a esperança mais provável de um futuro mais sustentável na exploração dos recursos naturais. Mas bilionários como Bill Gates, Jeff Bezos e Peter Thiel estão com seus olhos virados para uma outra tecnologia que pode, se bem explorada, signififcar uma verdadeira revolução no setor energético: a fusão nuclear.

Processo que une dois ou mais núcleos de átomos em um só, a fusão nuclear é conhecida, mas até hoje não foi explorada pelo homem.

Isso porque, diferentemente da fissão nuclear – a separação dos átomos, utilizada na energia nuclear atual e também nas armas do tipo –, a fusão ainda não é possível de ser realizada num ambiente controlado. Trata-se, afinal, de uma reação que só acontece em sua forma natural no interior das estrelas, e a reprodução dessas condições costumava exigir equipamentos extremamente robustos e caros.

Ultimamente, porém, os avanços nas análises de dados e novas tecnologias como as impressoras 3D e o machine learning tornaram os testes mais factíveis, como mostra uma reportagem da Bloomberg a respeito. E os investidores não perderam tempo em apostar nessa alternativa que, segundo teóricos, poderia gerar quantidades enormes de energia sem danos ao meio ambiente.

“É o ‘momento SpaceX’ para a fusão nuclear”, comparou Christofer Mowry, que comanda a General Fusion, empresa que aposta nessa tecnologia e recebe investimentos de Jeff Bezos. Lembrando da empresa de Elon Musk que se propõe a reutilizar foguetes espaciais, ele destaca que, se decifrada, geração de energia com fusão nuclear traria ganhos imensos rapidamente. “Se você se importa com as mudanças climáticas, você tem que se importar com o tempo necessário, e não só com a solução final. E os governos não estão trabalhando com a urgência necessária”, diz.

A primeira empresa a explorar essa possibilidade para fins energéticos, a TAE Technologies já recebia investimentos de um dos ricaços da tecnologia: Paul Allen, cofundador da Microsoft falecido no último mês, foi um dos primeiros entusiastas dos avanços na fusão nuclear.

Allen, aliás, esteve envolvido com esses investimentos até os últimos dias de sua vida. Diz a Bloomberg que pouco antes de sua morte ele viajou para ver o andamento da construção do Reator Termonuclear Experimental Internacional (ITER, na sigla em inglês), uma grande estrutura que está sendo construído no Sul da França, com o apoio de 35 países, para explorar as possibilidades da fusão nuclear para gerar energia. As nações da União Europeia e China, Índia, Coreia do Sul, Rússia e Coreia do Sul são os apoiadores.

Hoje, entretanto, são pelo menos “duas dúzias” de competidoras nesta corrida tecnológica, com outros padrinhos tão poderosos quanto Allen, segundo a Bloomberg. Enquanto Jeff Bezos apoia a General Fusion, Bill Gates e figuras como Richard Branson e Michael Bloomberg abastecem constantemente o Breakthrough Energy Ventures, um fundo dedicado a investir em energias renováveis que recentemente formalizou um investimento na Commonwealth Fusion Systems, startup fundada por professores do MIT que tem o objetivo de desenvolver um pequeno reator até 2025.

Para novidade sem larga escala, entretanto, o cronograma é mais longo. O ITER trabalha com a expectativa de apenas em 2050 ter um reator que possa abastecer um milhão de lares. A cientista-chefe do local, entretanto, refuta as críticas de que os esforços não são rápidos o suficiente.

Para ela, a iniciativa intergovernamental não pode ter as mesmas ambições das startups, até pelo tamanho do experimento. “Esses competidores tem a intenção de fazer algo menor, mas eu ainda não vi um estudo de física que mostre como pretendem fazer o que prometem. É a história da tartaruga e da lebre – e nós somos a tartaruga”, comparou, lembrando da fábula infantil.