A mineração de moedas virtuais tornou-se um grande negócio, mas o que acontece quando os “mineiros” decidem se estabelecer na sua cidade?
Existem centenas de criptomoedas, e os valores de algumas dispararam nos últimos três anos. Um único Bitcoin, por exemplo, vale hoje mais de US$ 7 mil (cerca de R$ 26 mil). Em 2016, sua cotação ainda estava na casa das centenas.
Isso fez com que a criação de uma criptomoeda se tornasse um mercado potencialmente lucrativo.
O processo, conhecido como “mineração”, envolve usar o poder da computação em escala industrial para resolver algoritmos complexos. Entre os objetivos estão tanto limitar a oferta das novas unidades quanto dificultar sua criação.
Mas, nos últimos anos, empresas vêm estabelecendo “minas” de criptomoedas, empilhando centenas de computadores em um mesmo lugar para criar uma moeda digital muito mais rapidamente. Esses centros de dados consomem enormes quantidades de eletricidade do mundo real.
E, recentemente, várias minas surgiram em um país improvável: a Islândia.
Em meio a dezenas de armazéns, um prédio comum abriga uma dessas operações – uma mina de criptomoeda. Arni Jensen, do Borealis Data Center, explica como o edifício, outrora uma garagem de uma base militar dos EUA perto da capital islandesa, Reykjavik, ganhou nova finalidade, com prateleiras de computadores e fios pendurados.
“Pegamos a placa dentro do computador que faz a tela funcionar, e empilhamos várias delas – 10 ou 15 – em um quadro. Isso nos permite executar os algoritmos”, diz ele.
Mas por que a Islândia?
Os computadores esquentam e precisam mantidos resfriados. Por sorte, a Islândia está bem equipada para lidar com esse problema. Jensen diz que não há necessidade de instalar unidades de resfriamento por causa do clima frio do país, que acaba regulando o calor interno das minas a partir do exterior.
Em outras palavras, não é necessário gastar dinheiro para resfriar os computadores.
O processo em si de fazer os computadores funcionarem também requer muita energia. A Islândia, no entanto, tem um suprimento quase ilimitado sob seu solo. O pequeno país possui uma série de usinas de energia geotérmica que usam o vapor extremamente quente da água geotérmica para alimentar turbinas e gerar enormes quantidades de energia barata.
“Até o final deste ano, os data centers na Islândia usarão mais eletricidade do que todas as casas do país juntas”, diz Johann Sigurbergsson, da empresa de energia geotérmica HS Orka.
Em outras palavras: até agora, as minas de criptomoedas não estão criando muitos problemas para a Islândia, onde 100% da matriz energética é renovável.
Mas em Plattsburgh, no Estado americano de Nova York, a história é bem diferente. A presença dessas minas vem colocando tanta pressão sobre a infraestrutura da cidade que o prefeito anunciou a proibição temporária da mineração por criptografia.
“Atualmente, eles já estão usando de 15% a 25% de toda a energia gerada em nossa cidade em um único dia. Mas o problema não se restringe a isso. Há uma série de problemas indiretos causados pela mineração de moedas virtuais”, diz Colin Read, prefeito de Plattsburgh, acrescentando que os computadores produzem ruído e calor.
Para a cidade, os aspectos negativos superam os positivos. Como são essencialmente automatizadas, as minas empregam muito poucas pessoas. Além disso, devido à natureza transitória do negócio da criptomoeda, os proprietários das empresas tendem a alugar instalações em vez de adquiri-las. Dessa forma, o município não se beneficia dos impostos relacionados à propriedade.
“Sou um grande fã de criptomoedas”, diz Read, “mas Plattsburgh precisa descobrir como lidar com os problemas que enfrenta nesse sentido, antes de suspender a proibição e admitir o retorno dos mineiros”, acrescenta ele.