Dólar e Bolsa perdem fôlego; investidor segue atento à cena eleitoral

Dólar e Bolsa perdem fôlego; investidor segue atento à cena eleitoral

Após chegar a subir mais de 4,5% na abertura e atingir a faixa dos 85 mil pontos, o Ibovespa perdeu parte de seu ímpeto, mas ainda sustenta ganhos próximos a 3% nesta quarta-feira. O cenário eleitoral continua gerando otimismo entre os investidores locais e impulsiona o giro financeiro do índice, em meio às apostas de vitória de Jair Bolsonaro (PSL) — e de um consequente avanço das reformas econômicas.

Por volta de 13h30, o Ibovespa avançava 2,91%, aos 83.990 pontos, após chegar a subir 4,69% na máxima, aos 85.442 pontos — maior pontuação intradiária desde 17 de maio, quando tocou os 86.536 pontos. Com o desempenho de hoje, o índice já acumula ganho de 5,7% nesta semana.

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O giro financeiro do Ibovespa também é bastante expressivo. O volume projetado para a carteira ao fim do dia chega a R$ 27 bilhões, considerando o montante negociado até o momento, de R$ 10,7 bilhões. Ontem, o volume financeiro do índice somou pouco mais de R$ 14 bilhões.

Para um gestor, as mudanças na corrida eleitoral indicadas pelas pesquisas Ibope e Datafolha provocam um redirecionamento dos portfólios dos investidores. “Não necessariamente todos acreditam 100% que o Bolsonaro será eleito, mas, com as informações recém divulgadas, os investidores precisam se adaptar e buscar uma posição de maior equilíbrio”, diz.

Nesse cenário, setores e papéis mais sensíveis ao noticiário eleitoral, ou que apresentavam descontos excessivos, são os que ganham mais terreno no rali dos últimos dias — caso de estatais, bancos e varejistas. Por outro lado, o gestor aponta os segmentos de seguradoras e commodities como “caros” neste momento.

Nesse sentido, Eletrobras PNB (+13,45%) e Eletrobras ON (+10,45%) lideram os ganhos do Ibovespa, seguidas por Banco do Brasil ON (+8,37%). Já Petrobras PN (+4,29%) e Petrobras ON (+2,6%) apresentam altas menos intensas.

Entre os bancos privados, Itaú PN (+5,17%) e Bradesco PN (+4,9%) avançam com desempenho semelhante e, entre as varejistas, Magazine Luiza ON (+6,9%), Lojas Americanas PN (+6,2%) e B2W ON (6,2%) são os destaques.

Já o setor de commodities apresenta os piores desempenhos do Ibovespa, com destaque para Suzano ON (-4,98%), Fibria ON (-1,41%), units da Klabin (-1,76%) e Vale ON (-0,31%). As fortes perdas do dólar, que já aparece na faixa de R$ 3,87, também impactam negativamente esse grupo de papéis, dado o viés exportador dessas empresas.

Um operador ainda pondera que os fortes ganhos verificados na abertura foram impulsionados pelos investidores locais, motivados pela percepção de que Bolsonaro poderá eventualmente vencer as eleições ainda no primeiro turno. Contudo, ele destaca que os investidores estrangeiros realizaram parte dos ganhos das últimas duas sessões, o que fez com que o índice reduzisse o ritmo de alta.

Nesse sentido, ele afirma que a atenção dos mercados estará voltada aos resultados da nova pesquisa Ibope, com divulgação prevista para esta noite — e um eventual novo avanço de Bolsonaro pode animar ainda mais os mercados.

Ontem, levantamento Datafolha mostrou Bolsonaro avançando de 28% para 32% das intenções de voto no primeiro turno, enquanto Fernando Haddad (PT) foi de 22% para 21%. Na simulação de segundo turno, o candidado do PSL tem 44% dos votos, ante 42% de Haddad — na pesquisa anterior, o petista liderava pelo placar de 45% a 39%.

Os resultados confirmaram o cenário traçado pela pesquisa Ibope de segunda-feira, que surpreenderam os investidores ao mostraram a virada de Bolsonaro — candidato mais alinhado às pautas econômicas do mercado financeiro.

Câmbio

No câmbio, a euforia fez o dólar repetir a queda de mais de 2% no momento mais favorável do dia. A queda perdeu um pouco de força, no entanto, no começo da tarde.

Na mínima do dia, a cotação do dólar caiu até R$ 3,8227 (-2,81%) e voltou ao menor nível intradiário desde 9 de agosto quando tocou R$ 3,7768. Por volta das 13h35, a moeda americana era negociada em baixa de 1,34%, a R$ 3,8806. Já o contrato futuro para novembro – o mais líquido – tinha queda de 1,71%, a R$ 3,8830.

Para o diretor da Wagner Investimentos, ainda há chance de queda adicional da moeda e o nível de R$ 3,85 pode parecer “um pouco inflado” no caso de vitória de Bolsonaro. “Há riscos de queda adicional na faixa de R$ 0,15, ou seja, em direção a região de R$ 3,70”, aponta o especialista. Ao mesmo tempo, o potencial de alta do dólar ao longo da eleição pode ser contido mesmo se Haddad voltar a ganhar força nas pesquisas. “O candidato do PT deverá acenar para o mercado e não vemos muito potencial de alta do dólar”, acrescenta.

Profissionais de mercado apontam, entretanto, que boa parte da intensidade do movimento no câmbio se deve a fatores técnicos. Ontem, o dólar acelerou a queda após atingir a marca psicológica de R$ 3,97. Esse nível é considerado importante porque foi a máxima registrada em junho quando o Banco Central decidiu injetar mais de US$ 20 bilhões em contratos novos de swap cambial no mercado.

Em paralelo, comenta-se nas mesas de operação que os investidores têm desmontado posições compradas em dólar (que ganham na alta da moeda), isto é, aquelas que serviriam de hedge para atravessar o período eleitoral. Com a leitura de que o pico da moeda pode não ser tão alto mesmo num cenário mais adverso, há espaço para calibrar as estratégias no mercado de câmbio a preços mais baixos.