Há algum tempo, o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, anunciou que o país teria uma moeda virtual própria, a Petro. A partir daí, surgiram informações de que a criptomoeda, supostamente apoiada pela reserva de petróleo que o político lançou em fevereiro deste ano, já arrecadou US$ 3,3 bilhões, e que está sendo usada para pagar as importações.
Mas uma investigação da agência de notícias Reuters não encontrou evidências para sustentar essas afirmações, ou que a Petro é uma criptomoeda real em operação. A moeda virtual, inclusive, foi tida em seu lançamento como a salvação para a nação, atingida por uma grave crise econômica e social.
Para chegar a essa conclusão, a Reuters passou quatro meses falando com especialistas em criptomoedas e de avaliação de campos de petróleo, visitando locais de reserva de petróleo na Venezuela e analisando transações de blockchain. Para surpresa geral, a agência de notícias descobriu que o Petro não é vendido em nenhuma bolsa, e nenhuma loja o aceita. Registros no blockchain NEM, que deveria hospedar o token, indicam que ele não foi emitido.
Maduro anunciou em 26 de abril que 16 bolsas haviam sido “certificadas” para trocar o Petro, acrescentando que “elas começam a operar a partir de hoje”. A maioria é pouco conhecida no mundo da criptografia.
A própria Reuters não conseguiu localizar sete das bolsas, que não tinham presença na internet. Outras sete não responderam aos pedidos de comentários. O Italcambio, uma bolsa de valores venezuelana estabelecida, sobre a qual Maduro disse que trocaria a moeda, não administra nem vende Petros, disse seu presidente, Carlos Dorado, em uma resposta por e-mail à Reuters.
Hugbel Roa, ministro do gabinete envolvido no projeto, confirmou à Reuters que “ninguém foi capaz de usar a Petro… nem recebeu nenhum recurso”.
Segundo ele, a Venezuela ainda está desenvolvendo sua tecnologia blockchain, o que inviabiliza a comercialização da moeda no momento. Contudo, a afirmação é controversa, uma vez que Maduro afirmou que a criptomoeda está em funcionamento. De acordo com o presidente da Venezuela, salários, pensões e a taxa de câmbio do bolívar no país estão agora atrelados a Petro.