No futuro próximo até uma padaria deverá ser inovadora

No futuro próximo até uma padaria deverá ser inovadora

“O que foi o iPhone? Uma nova combinação que Steve Jobs fez de recursos que já existiam”.

O exemplo é citado por André Cherubini Alves, professor da Fundação Getulio Vargas (FGV) e diretor do Silicon Valley Institute for Business Innovation, para explicar o que é inovação. Mas não se trata, necessariamente, de inovação tecnológica.

A tecnologia é parte central na inovação, diz Alves, mas não da forma como costumamos imaginar. Toda empresa, seja a padaria da esquina ou a Apple, parte de algum conhecimento para resolver um problema do mercado. O conhecimento aplicado para esse fim, segundo o professor, é tecnologia.

“Relacionar inovação apenas a invenções, como a de um smartphone, faz o empreendedor achar que ela está muito distante. Na verdade, está na interface direta que ele tem com seu consumidor”, afirma. É possível inovar na comunicação com os clientes, por exemplo, usando o próprio smartphone inventado por Jobs. O importante é que, mais do que ser uma novidade, essa inovação gere resultado – seja como um produto, um serviço ou um processo.

Quem, quando e como

Mas, afinal, todos os negócios precisam inovar? Segundo o professor da Fundação Getulio Vargas, a tendência é que sim. “Ao mesmo tempo que as possibilidades trazidas pela tecnologia empoderam a pessoa que tem acesso a elas, elas também afetam setores, atividades e formas de trabalho”, afirma. A tendência é as empresas buscarem inovação quando as vendas param de crescer ou começam a cair. Mas muitas vezes já é tarde demais.

Antes de partir para a missão, porém, é necessário olhar para dentro. “As empresas do Brasil têm muitos problemas de organização e de eficiência em processos. Na medida em que você não tem eficiência na operação, não consegue nem focar na inovação ou no mercado. Sua tarefa no dia a dia é apagar incêndios”, diz Alves. Em um cenário como esse, a própria reorganização pode ser inovadora – diminuindo custos, promovendo eficiência e abrindo espaço para os projetos que garantirão longevidade ao negócio.

A burocracia no país é um entrave nessa área, mas não é o único. Segundo o professor, é preciso força de vontade para buscar capacitação e ferramentas que auxiliem nessa organização. Além de garantir um melhor desempenho localmente, ela também pode abrir espaço para maiores ambições. “Nos Estados Unidos, as empresas nascem pequenas, mas com pensamento global. Isso falta para nós, e tem uma razão: as dificuldades de resolver as coisas aqui as impedem de pensar para fora”, diz.

Erros, acertos e necessidades

No caso de muitas empresas, o problema não está na falta de inovação, mas no foco que se dá a ela. Em 2010, o professor da Fundação Getulio Vargas organizou um estudo que mapeou 1.500 empresas no Rio Grande do Sul. Elas foram analisadas a partir de quatro competências centrais: operacional, gerencial, comercial e capacidade de desenvolvimento.

Entre outras conclusões, a pesquisa constatou que gestão, comercial e desenvolvimento são as capacidades que mais influenciam no aumento do lucro da empresa, enquanto a operação foi considerada pouco significativa. Outro bloco buscou identificar onde as empresas mais investiram esforços em inovação. 80% delas responderam “operação”.

“Isso mostra um certo grau de defasagem tecnológica de operação. Se você pergunta o que é inovação para elas, elas respondem que é a compra de equipamento e atualização do maquinário”, diz o professor. “Enquanto não nos atualizarmos com melhores práticas e tecnologias mais avançadas, não conseguiremos pensar em inovação.”