Dólar sobe para R$ 4,16, quais as consequências

Dólar sobe para R$ 4,16, quais as consequências

O dólar retomou sua escalada, a moeda americana voltou para o nível de R$ 4,16, na contramão dos ganhos de boa parte dos emergentes, o que evidencia a frustração dos investidores com as novidades no campo político.

A pesquisa Datafolha, divulgada na noite de segunda (10/09), decepcionou quem apostava numa melhora dos candidatos de centro-direita após o atentado sofrido por Jair Bolsonaro (PSL), na última quinta-feira (06/09).

A rejeição contra o ex-militar não diminuiu, como muitos esperavam, e Geraldo Alckmin (PSDB) – nome mais alinhado à agenda econômica do mercado – teve um avanço aquém de outros concorrentes. Além disso, Marina Silva  registrou uma leve queda em termos numéricos.

E se já não bastasse o decepcionante desempenho dos candidatos mais à direita, o apoio a Ciro Gomes (PDT) e Fernando Haddad (PT) ganhou força. Esse quadro eleva a preocupação com um dos quadros mais rejeitados pelos investidores: um embate entre um candidato de esquerda e o líder da pesquisa, Jair Bolsonaro.

A preocupação com o quadro eleitoral se refletiu na recomposição do prêmio de risco no mercado de câmbio. O dólar fechou em alta de 1,47%, a R$ 4,1539, renovando a máxima desde janeiro de 2016, quando bateu a marca histórica, de R$ 4,1631.

Os números da pesquisa forçaram os investidores a ajustarem suas apostas para o segundo turno da eleição. Além da ascensão dos candidatos de esquerda, também entra na conta a redução de chances de Alckmin chegar à etapa final da disputa. E os fatores se somam na mesma direção, elevando o nervosismo dos investidores.

Desafiador 

Para um gestor, só o fato de a candidatura de Alckmin não engatar já seria motivo suficiente para a frustração no mercado, mas o cenário fica ainda mais desafiador com o avanço de Ciro e Haddad.

“Estão diminuindo muito as chances de Alckmin chegar ao segundo turno, mas não dá para descartar totalmente esse cenário. Já tivemos vários casos de uso de voto útil ou rápida reversão de cenário, basta ver o que aconteceu em 2014 quando Marina Silva parecia favorita para a Presidência, mas nem chegou no segundo turno”, diz o profissional.

Os especialistas alertam que o cenário eleitoral não está selado e as próximas pesquisas de intenção de votos ainda podem mexer muito com as apostas.

Para Luciano Rostagno, estrategista-chefe na Banco Mizuho do Brasil, o mercado ainda está corrigindo o excesso que foi visto após o atentado contra Bolsonaro. “O mercado mostra variações importantes e volta para os níveis da semana passada, mas nada que aponte que o cenário já está determinado. A eleição continua bastante aberta”, diz.

O profissional de Tesouraria de um banco local aponta que nenhum cenário pode ser descartado ainda. Alckmin, Marina, Ciro e Haddad estão todos disputando um lugar no segundo turno, acrescenta o especialista, ao lembrar que o índice de indecisos segue elevado. E, diante de tanta incerteza, há ainda o componente do voto útil.

Por causa da rejeição à Bolsonaro, o profissional aponta que os eleitores podem migrar de Henrique Meirelles e Alvaro Dias – nomes com menos apoio popular – para outros candidatos de centro. Por outro lado, Haddad ainda tem potencial de avançar com a confirmação de sua candidatura, no lugar do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

“Mas, por enquanto, quem saiu na frente foi Ciro Gomes, que já herdou alguma coisa do Lula e é um dos principais rivais de Bolsonaro”, acrescenta.

Pelas pesquisas, a ida de candidato da esquerda com Bolsonaro é o cenário mais provável neste momento e, neste caso, a maior aposta é em Haddad, diz José Faria Junior, diretor da Wagner Investimentos. “O problema é que Bolsonaro perde para todos os candidatos no segundo turno, fato que dá o tom pessimista nos ativos brasileiros hoje”, acrescenta. O especialista aponta que o dólar, cotado a R$ 4,16, já opera na linha de curto prazo. “Quanto mais longe de R$ 4,10, mais arriscada é a compra”, diz.

<