Em 2018, os carros da Tesla chegaram apenas ao espaço, mas não foi só isso. Eles também caíram no gosto das estrelas do rap nos EUA, o que pode ser o empurrão que faltava para não apenas a companhia emplacar, mas para que o carro elétrico se popularize de maneira geral.
São notórios os rappers que passeiam de Tesla por aí. A lista é grande e inclui veteranos, como Snoop Dogg, Dr. Dre e Jay Z, e gente da nova geração como Tyler The Creator e Jaden Smith. Não é difícil encontrar menções à marca em suas composições ou em suas redes sociais.
Enquanto alguns se resumem a citar funções dos carros ou simplesmente rodar por aí em suas naves, outros rasgam seda para Elon Musk e seus brinquedos.
Na letra de “911”, Tyler The Creator menciona Elon Musk e ainda diz que, depois de bater sua McLaren, comprou um Tesla. Segundo o site “Genius”, que reúne informações de letras de músicas, Tyler teria sido influenciado por Jaden Smith. O filho do ator Will Smith tem um clipe todo filmado em torno de seu Model X, de portas que abrem pra cima, no melhor estilo ostentação.
Aliás, o karate kid do novo milênio não cansa de tuitar sobre esse assunto e deu uma entrevista em fevereiro deste ano dizendo que quer ser o próximo Elon Musk. A postura de devoção é parecia com a de Kanye West, que vive mencionando Musk e a Tesla no Twitter.
Minha marca, minha vida
Tanto burburinho, claro, pode ser bom para a Tesla. Para Gisele Jordão, pesquisadora e coordenadora do curso de Cinema e Audiovisual da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), isto se dá por causa de uma estratégia chamada de comunicação associativa.
“Quando uma marca aparece em um universo criativo onde as convicções e valores de um artista estão bem estabelecidos, o público automaticamente associa a marca a este determinado contexto, e portanto esta marca ganha os mesmos valores deste contexto”, diz.
Jordão explica que este é um movimento de marketing comum, e que dá certo há muito tempo. Pense como a marca de motos Harley-Davidson não é nome consolidado só como marca, mas como estilo de vida.
“As motos da Harley-Davidson não faziam muito sucesso por serem robustas e com mais potência que velocidade. Por isso, durante a Guerra Fria, a marca foi associada a uma estética militar, graças a um movimento do governo americano para promover uma propaganda patriota por meio dos veículos de comunicação. Este foi o fator primordial para o sucesso da marca”, diz.
Então, assim como a Harley-Davidson pegou carona num movimento cultural, a Tesla pode se beneficiar do fato de que o rap ser um dos estilos musicais mais populares dos tempos atuais.
E tem um detalhe importante: aparentemente a adesão dos rappers é espontânea. Musk já disse algumas vezes, incluindo no seu Twitter, que não paga por anúncios comerciais ou pelo apoio de celebridades. Todo o barulho em torno da Tesla seria orgânico.
We’ve never advertised with FB. None of my companies buy advertising or pay famous people to fake endorse. Product lives or dies on its own merits.
— Elon Musk (@elonmusk) March 23, 2018
Claro, isso não exclui o fato de que o bilionário tem certa proximidade com as estrelas. Ele já demonstrou publicamente sua admiração por Kanye West. Isso sem contar o namoro com a cantora Grimes – que abre as portas para situações inusitadas, como o barraco com a rapper Azealia Banks.
Também nada inédito no mundo da tecnologia. Vale lembrar a amizade entre Steve Jobs e Bono Vox, do U2, que ajudou a promover o iPod na década passada. A banda tocou em eventos da Apple, teve música em comercial e chegou até a incluir à força o disco “Songs for Innocence” no iTunes de todos os usuários do serviço.
Ajuda bem-vinda
O empurrão vindo dos rappers é muito bem-vindo, já que os números da Tesla não são tão expressivos. No primeiro semestre de 2018, o Model 3, modelo mais “popular” da Tesla, ficou em 20º lugar no ranking geral de vendas dos EUA, segundo o site especializado “GoodCarBadCar”.
Acredita-se que esta posição não se dá só por conta do preço (um Model 3 pode custar US$ 35 mil, o equivalente a mais de 120 mil reais hoje), mas também por um curioso problema que aflige toda a indústria de carros elétricos: o preconceito.
Segundo um estudo do Instituto de Tecnologia de Massachussets (MIT), as pessoas tem “ansiedade de autonomia”. Ou seja, elas acreditam que carros elétricos não tem a mesma autonomia que carros movidos a combustão interna, e que sempre vão precisar interromper suas viagens para recarregar as baterias, demorando muito mais tempo para chegar em seus destinos.