As estratégias do PayPal para que você pare de usar dinheiro

As estratégias do PayPal para que você pare de usar dinheiro

O maior concorrente do PayPal é o dinheiro”. E a gigante de meios de pagamento, com mais de 18 mil funcionários espalhados pelo mundo, quer derrubar esse concorrente. A frase é de Jim Van Over, profissional de inovação responsável por apresentar o showcase do PayPal em San José, na Califórnia.

Foi-se o tempo em que a empresa se contentava em ser apenas um botão em sites de e-commerce. Atualmente, ela tem soluções para compras presenciais e também permite a transferência de dinheiro entre pessoas. Pelo menos por enquanto, contudo, essa última funcionalidade não chegou no Brasil. Em 2017, o PayPal realizou no total 2,2 bilhões de transações de pagamentos, girando um volume de US$ 131 bilhões.

Para mostrar as inovações que estão sendo desenvolvidas e implementadas nos Estados Unidos, Reino Unido e Austrália, a empresa tem um showcase, onde dá pistas sobre o que pensa do futuro dos meios de pagamento.

Há algumas dificuldades em incentivar o uso do PayPal pelos consumidores. Uma delas é fazer com que o dinheiro vivo — notas e moedas — seja convertido em crédito na conta PayPal. A solução encontrada foi fazer, nos Estados Unidos, parcerias com redes de lojas, como a farmácia CVS. Os consumidores podem ir até uma unidade, entregar o dinheiro no caixa, e então um sistema gera um QR Code, por meio do qual o dinheiro é transferido para a conta do usuário. Há um custo, porém, que varia de US$ 3 a US$ 5 por transação.

Tirar dinheiro sem cartão

Criar uma forma de fazer o caminho inverso é outra tentativa do PayPal. Como sacar o dinheiro que está na conta? Uma das inovações exibidas no showcase usa caixas eletrônicos para isso. O usuário vai até um terminal, que gera um QR Code. O usuário então usa seu smartphone e decide qual valor quer sacar. A máquina, então, libera o dinheiro, sem que o usuário precise colocar um cartão ou inserir sua senha no caixa eletrônico.

Quase todo mundo conhece a história: escolhe algum ou alguns produtos em um e-commerce, mas acaba não concluindo a compra, seja porque começou a fazer uma coisa e se esqueceu, seja porque não entende muito bem o site, ou simplesmente porque ficou com preguiça de inserir todos os dados do cartão de crédito — a maior causa para o abandono de carrinhos. O problema para os lojistas é maior do que a maioria dos consumidores imagina: três em cada quatro carrinhos são perdidos.

A opção de pagamento pelo PayPal melhora a situação para os varejistas, porque não é preciso digitar os dados do cartão. A empresa tem buscado melhorar a experiência do usuário. Criou um sistema em que o internauta se mantém logado em sua conta PayPal no celular ou no computador. “É como ter a experiência da Amazon [basta dar um clique para autorizar a compra], mas em todos os sites que aceitam PayPal”, diz Jim Van Over. Dos 244 milhões de usuários do PayPal, 103 milhões já aceitaram a opção.

No entanto, isso traz uma preocupação com a segurança. Afinal, se alguém roubar o celular do usuário, poderá fazer transações usando o PayPal? Para evitar esse cenário, a empresa usa cerca de 150 tipos de dados para checar se as transações são válidas, como checar o endereço de entrega, verificar a altura em que o celular está sendo usado, além da inclinação do aparelho, apurar a velocidade de digitação ou ainda se o usuário usa um ou dois dedos para escrever. Apenas a câmera não é usada, diz Van Over. Quando os dados acusam inconsistências, o sistema pede que o usuário faça seu login novamente.

Segurança
Atualmente, US$ 5 bilhões são perdidos no mundo anualmente por causa de transações válidas que foram barradas por modelos tradicionais de verificação de risco. Usando big data e inteligência artificial, o PayPal busca uma nova abordagem. Van Over mostrou um exemplo: um usuário do PayPal que faz a maioria de suas transações de Nova York, mas realizou uma compra em Tóquio — onde nunca esteve — às 3 horas da manhã no horário local. Mais: o endereço de entrega fica no Texas, e não em Nova York. “Os modelos tradicionais barrariam essa transação, pelo menos até entrar em contato com o usuário”, diz Van Over.

Porém, o sistema do PayPal faz outras verificações: o local onde o usuário fez a compra online, reconhecido pelo IP da rede, é um hotel. Além disso, o cliente havia feito uma transação via PayPal um dia antes, no aeroporto de São Francisco, um importante hub aéreo para viagens à Ásia. Além disso, o endereço de entrega já foi usado outras cinco vezes nos últimos anos, sempre perto do Dia dos Pais. “Ok, podemos entender com alguma certeza que o usuário está comprando um presente para o seu pai”, afirma Van Over. Assim, a transação é entendida como válida. Todo esse processamento, feito com inteligência artificial, é realizado em até 500 milissegundos pelo sistema de inteligência artificial construído na empresa ao longo dos últimos 19 anos. O PayPal tem capacidade de processar 600 transações desse tipo por segundo.

Venmo

Uma das apostas do PayPal nos Estados Unidos é o aplicativo Venmo. Ele cria uma “carteira virtual” para os usuários, que podem transferir dinheiro uns para os outros usando cartão de crédito ou transferências bancárias. Em 2017, foram US$ 35 bilhões em transações pelo Venmo — “é a divisão de maior crescimento da empresa”, diz Van Over. Além das transferências P2P (de pessoa a pessoa), 2 milhões de lojas já aceitam pagamentos com o Venmo.

Mas, se nos EUA o PayPal também permite enviar e receber dinheiro de outras pessoas físicas, qual a vantagem do Venmo? O aplicativo tem cara de rede social. A cada transação, o usuário precisa descrever o motivo do pagamento — o que normalmente é feito com emojis. É a aposta da empresa para atender o público millennial.

Pagamentos móveis usando a maquininha do cartão de 6 anos atrás

Uma das dificuldades em expandir o uso do PayPal em lojas físicas é a necessidade de os varejistas terem os aparelhos necessários para que os pagamentos sejam feitos via celular. Pensando nisso, a empresa criou algumas soluções. Uma delas, já em uso pelas redes Shell e BP, permite que o usuário pague usando um QR code que aparece na máquina do cartão de crédito. O pagamento é feito pelo PayPal ou pelo aplicativo da bandeira do posto de gasolina. A solução já está disponível no Reino Unido, Austrália, Alemanha e na costa oeste dos Estados Unidos.

Pagar gasolina na bomba sem passar o cartão

Também para os postos de combustíveis da BP e da Shell, há um sistema que permite o pagamento diretamente na bomba via celular usando a tecnologia NFC — aquela em que é preciso apenas encostar o celular no terminal. No Brasil, a solução já existe nos postos da Shell, mas sem o NFC, apenas com o QR code, direto na bomba de gasolina.

Pagar no provador

Mais uma experiência do PayPal para aumentar o engajamento dos consumidores em lojas físicas é um espelho inteligente. Ele é capaz de reconhecer as roupas escolhidas para serem provadas por meio do dispositivo de segurança atrelado às peças. Diretamente no espelho — que serve também como uma tela touchscreen — o consumidor consegue ver as opções de cor e tamanho de cada roupa. Se decidir levar uma das peças provadas, é possível pagar diretamente no espelho, equipado com tecnologia NFC, simplesmente tocando o celular nele.

POR DANIELA FRABASILE