Abundância 360

Abundância 360

O americano Peter Diamandis, cofundador da Singularity University, no Vale do Silício, e de empresas em ramos como a biotecnologia, vende o que chama de conscientização. “Meu trabalho é despertar as pessoas para as transformações cada vez mais rápidas que a tecnologia exponencial está impondo – e não só nos negócios de todos. É um processo que em pouco tempo vai mudar até mesmo a nossa compreensão do que é o ser humano”, disse o empresário, hoje (30/8), na abertura do evento Abundance360, no hotel Copacabana Palace, no Rio de Janeiro.

Com formação em medicina e engenharia, ele falou para uma plateia de 150 executivos e empreendedores que desembolsaram cerca de R$ 19.500 por um pacote incluindo, além de painéis e debates, duas noites de hospedagem no hotel Copacabana Palace, um ano de conteúdo e várias atividades educativas monitoradas online.

Para ilustrar e inspirar o que chama de “mentalidade da abundância exponencial”, convocando os empresários a pensar grande, “mirar na Lua”, Diamandis falou sobre maravilhas de um mundo que aponta como nada distante. Coisas como buscas no Google acionadas por pensamento, conectividade entre cérebros a partir da nuvem, uma revolução na educação a partir do

uso da inteligência artificial (que ele prevê que vai superar a humana já em 2019), leitores labiais e de imagens que já superam a capacidade de percepção do cérebro humano, e sensores apelidados de “smart dust” (“poeira inteligente”), com um milímetro de diâmetro, capazes de levantar informações complexas sobre ambientes e corpos humanos.

Com a participação do médico Bob Hariri, cofundador da startup Celularity, e de Cevdet Sanikonglu, CFO da biofarmacêutica Samumed, o painel apresentado à tarde mirou na longevidade. “Vamos fazer dos 100 anos de idade os novos 60”, repetiu Diamandis. A Celularity trabalha para usar células “assassinas” da placenta (“natural killer cells”) no fortalecimento da imunidade contra infecções e câncer. “Fazer da placenta a impressora 3D que imprime os bebês”, comparou Hariri, repetindo frase atribuída a Diamandis. A Samumed, por sua vez, busca tratamentos revolucionários na regeneração de cartilagens, ossos, cabelos e pele, já testados em camundongos.

Tanto otimismo pode ser visto como artigo de luxo em tempos de prolongada crise no Brasil. Mas o primeiro dia de Abundance360 não se passou sem que questões políticas e econômicas do país fosse abordadas. “Os governos não vão fazer as mudanças necessárias. Nós, empreendedores, é que precisamos trabalhar por elas”, disse Diamandis, na conclusão do evento, após ser entrevistado pelo apresentador e empresário Luciano Huck.

O empreendedor americano lembrou a história recente da Grécia, país onde nasceram seus pais, para destacar positivamente o Brasil. “Apesar de todas as dificuldades, este país aqui tem uma admirável atitude em relação à inovação, um interesse grande pelas transformações. Na Singularity, os brasileiros estão entre os estrangeiros em maior número”, disse Diamandis, em sua décima segunda visita ao Brasil.

Peter Diamandis fecha evento no Rio com novas tecnologias e dicas de negócios

o fim das contas, é a sua mentalidade que vai ser decisiva”, arrematou Peter Diamandis, ao fazer as considerações finais do Abundance360, evento que reuniu 150 executivos e empreendores por dois dias no Copacabana Palace, no Rio de Janeiro.

O guru da inovação Vale do Silício, cofundador da Singularity University e autor do best-seller “Abundância: o futuro é melhor do que você imagina”, iniciou o segundo dia do evento complementando seu painel sobre tecnologias importantes que estão sendo desenvolvidas em um ritmo muito veloz. Na área de robótica, destacou o exemplo de empresas como Tesla e Amazon, e citou o caso da Foxconn, empresa de componentes eletrônicos sediada em Taiwan, que planeja substituir 80 % dos seus trabalhadores por autômatos em menos de uma década.

“Em dez anos, ser dono de um carro é algo que estará morto. O carro como serviço sairá cinco vezes mais barato”, anunciou Diamandis, citando iniciativas como o Waymo (carro autônomo do Google), o fundo de 4 bilhões criado pela Ford para desenvolver concorrentes semelhantes até 2023, e projetos de táxis que serão realmente aéreos, capazes de voar.

Claudio Raupp, CEO da HP Brasil, apresentou os avanços na qualidade e na viabilidade econômica da impressão 3D, “a próxima revolução industrial”, muito próxima de afetar os negócios em ramos como autopeças e próteses. Ao lembrar do replicador, máquina que excitava a imaginação dos fãs da série “Jornada nas estrelas”, cravou a previsão: “Uma nave como aquela só será possível se tiver a bordo uma boa impressora 3D”.

O empresário Marcelo Lacerda, um dos veteranos brasileiros no Vale do Silício (aportou em Mountain View ainda em 1992, com a Nutec), discorreu sobre realidade virtual e realidade aumentada, especialidades de sua menina dos olhos atual: a Magnopus, produtora responsável por efeitos especiais, computação gráfica e design visual em filmes como “Blade Runner 20149” e nos live-actions da Disney “Mogli: o Livro da Selva” e “O Rei Leão”. “A realidade aumentada vai nos dar superpoderes”, exaltou.

Na reta final do evento, os empreendedores e executivos fizeram um exercício com o que Peter Diamandis chama de “moonshots” (“tiros na Lua”), apontando objetivos extremamente ambiciosos e bastante específicos para seus negócios. Sempre com um prazo determinado.

Guilherme Horn, sócio brasileiro da consultoria de negócios Accenture e conselheiro da ABFintech (entidade que reúne startups do setor financeiro), falou sobre disrupção e alertou que as grandes empresas não devem apenas reagir às tecnologias que impõem mudanças radicais em suas atividades. “Elas não devem ser vítimas. Os setores tentam se proteger forçando regulamentações. Mas regulamentações não são mais barreiras.”

No encerramento, Diamandis instou os empreendedores a criar em suas empresas “forças de ataque” formadas por funcionários “milennials” e reforçou a tecla da mudança de mentalidade.

Para o economista Leonardo Gregori, 32 anos, da Paes & Gregori, empresa de incorporação e construção, o Abundance360 serviu para mais do que simples atualização sobre tendências. “Li o livro do Peter [Diamandis] e vi muita coisa dele na internet. Mas, ao vivo, a experiência estabelece novos pontos de vista, faz pensar de um modo diferente. E serve também para networking”, observou.

Satisfeito com os resultados, Flávio Steiner, organizador do Abundance360 Rio, expôs visão semelhante: “O evento não é só vir aqui e aprender, ser informado. Também é construir relações e, a partir desses conceitos de abundância e exponencialidade, conseguir enxergar oportunidades que, no dia a dia, não conseguimos enxergar”.

O engenheiro americano Jacob Rosenbloom, 35 anos, radicado em São Paulo há 11, preferiu exaltar outra aspecto: “Me interessou mais como sessão livre de criatividade e partilha de experiências. É um ambiente de apoio mútuo”. CEO e fundador da Levee, empresa que trabalha com inteligência artificial na busca de soluções em educação, ele revelou o “moonshot” que sonha para seu negócio: “Democratizar oportunidades para os trabalhadores do mundo”. Em que prazo? “Ah, pra semana que vem!”, respondeu, brincando. Formado pela Stanford University, Rosenbloom contou que a parte mais interessante do evento foi o módulo sobre como implementar a mentalidade da abundância dentro de uma empresa: “Porque ninguém faz nada sozinho”.