A agência de notícias chinesa Xinhua anunciou ser a primeira do mundo a produzir um âncora de TV feito por meio de inteligência artificial.
Sua voz e aparência foram modeladas a partir do âncora Zhang Zhao – que é uma pessoa de verdade. O âncora feito por meio de IA é fruto de uma colaboração entre a Xinhua e a gigante de tecnologia Sogou.
A tecnologia é tão fiel à realidade que levanta questões éticas sobre como ela poderia ser utilizada para produzir conteúdos falsos em outros contextos – as temidas fake news – e até vídeos colocando pessoas em situações virtuais das quais elas nunca participaram na realidade – os vídeos chamados de “deep fake”.
Os clones da agência estrearam na Conferência Mundial de Internet em Wuzhen, no leste da China.
“Olá a todos. Sou um apresentador feito a partir de inteligência artificial. É meu primeiro dia na agência de notícias Xinhua. Minha voz e minha aparência foram feitas com base em Zhang Zhao. O desenvolvimento da indústria da mídia requer inovação contínua e profunda integração com as tecnologias internacionais avançadas”, disse o âncora virtual no vídeo apresentado na conferência.
Os desenvolvedores dizem que a tecnologia pode ser especialmente útil para notícias urgentes. Voz, lábios e rosto se adaptam às palavras em tempo real – e podem ler tudo que for colocado no sistema.
China estreia apresentadores artificiais de TV
Os apresentadores virtuais têm uma aparência bastante realista. Eles piscam e erguem as sobrancelhas quando falam. Sua boca se move em sincronia com as palavras. Mas são facilmente distinguíveis de uma pessoa real. Suas expressões faciais ainda são limitadas. A voz soa metálica, sem nuances de entonação.
É assim, por enquanto. Restam poucas dúvidas de que a tecnologia será aperfeiçoada e a fronteira entre realidade e artificialidade será cada vez mais obscura. Com o uso de outro tipo de tecnologia, seres virtuais como a cantora japonesa Hatsune Miku já se tornaram estrelas no mundo artístico.
“Os assistentes virtuais estão se tornando cada vez mais populares como uma maneira eficiente de resolver problemas cotidianos”, afirmou o CEO da Sogou, Wang Xiaochuan, em declarações ao China Daily. Wang disse ainda que a criação de personagens virtuais mais realistas “permitirá que essa tecnologia se torne cada vez mais uma parte integral da vida diária”.
A Sogou estima que esses “assistentes virtuais” poderão ir além da função de apresentadores de TV. Poderão ser profissionais de atendimento ao cliente, professores ou até mesmo médicos.
Dentre as vantagens desses apresentadores cibernéticos está a diminuição dos custos e o aumento da produtividade. Segundo a Xinhua, “Zhang” e “Qiu” “podem trabalhar 24 horas por dia em seu site oficial e em diferentes plataformas de mídia social, reduzindo os custos de produção de notícias e melhorando a eficiência”.
E na China, onde a informação é fortemente censurada, esses apresentadores não correm o risco de cometer um erro ou dar uma história que não deveriam. Ou fazer uma dessas perguntas que levam um funcionário a tentar arrebatar o microfone de um jornalista, como aconteceu esta semana na Casa Branca.
Por ora, as primeiras reações nas redes sociais chinesas foram céticas. “A princípio, parece autêntico, mas quando você ouve um pouco, soa artificial, sem vida. A sensação que provoca é desconfortável, não sei se é porque a entonação não é a de uma pessoa normal”, disse um internauta no Weibo, o Twitter chinês. “O setor de apresentadores de TV está se encaminhando para uma grande limpeza? Na internet, quem distingue quem é uma pessoa e quem é um robô?”, pergunta outro.