“Uma boa rede de contatos mantém você informado. Ensina coisas novas. Torna você mais inovador. Dá a você uma caixa de ressonância para testar suas idéias. Ajuda você a fazer as coisas quando está com pressa”, afirma Herminia Ibarra, professora de comportamento organizacional e autora em artigo digital na revista Harvard Business Review.
Mesmo cheia de benefícios, a prática é vista por muitos com resistência. No entanto, segundo a especialista, a objeção vem, principalmente, de uma mentalidade. Ou seja, não é questão de competência.
Conversando com alunos de MBA e executivos, Herminia determinou cinco equívocos sobre networking que são protagonistas nas reclamações dos que sentem não se dar bem com a atividade. Confira 5 equívocos sobre networking.
1. “Networking é perda de tempo”
A falta de experiência pode levar as pessoas a questionar se o networking é um uso valioso do seu tempo, especialmente quando as relações que estão sendo desenvolvidas não estão imediatamente relacionadas à atividade mais urgente ou recente.
Isso depende de como você leva a tarefa de construir sua rede de contatos. O ideal, de acordo com Herminia, é o networking intencional. “Ir atrás de pessoas que você identificou como estrategicamente importantes para sua agenda tem mais chances de compensar”, explica.
2. “As pessoas são naturalmente boas em fazer networking ou não, e geralmente é difícil mudar isso.”
Muitas pessoas acreditam que a habilidade vem facilmente para os extrovertidos e contraria a natureza de uma pessoa tímida, por exemplo. Então, não investem porque não acreditam que o esforço valerá a pena.
O estudo de uma psicóloga de Stanford mostrou que habilidades como inteligência e de liderança afetam diretamente o esforço que alguém dedica a aprender algo que não vem naturalmente a ele. Basicamente, pessoas com teorias “fixas” acreditam que as capacidades são inatas, e os que têm mentalidade de “crescimento” consideram que podem desenvolvê-las.
A partir de outras pesquisas, Herminia conclui afirmando que se você acredita que networking é uma competência que pode ser desenvolvida, tem mais chances de se motivar a aperfeiçoá-la. Consequentemente, tem melhores resultados nas suas tentativas, do que os com um mindset fechado sobre o assunto.
3. “Relacionamentos devem se formar naturalmente.”
Segundo Herminina, “um dos maiores equívocos que as pessoas têm sobre networking e é que as relações devem se formar e crescer espontaneamente, entre pessoas que naturalmente gostam umas das outras.” Na realidade, não há nada de antiético em formar conexões estratégica e metodicamente.
E o principal problema de pensar assim é que faz com que as pessoas formem redes que não são úteis para nenhum dos lados, porque são muito homogêneas. Pesquisas científicas já mostraram diversas vezes que, sem planejamento, tendemos a nos relacionar apenas com pessoas parecidas, ou que pensem similarmente a nós.
Redes de contatos homogêneas não conseguem prover a amplitude e diversidade necessárias para entender o mundo, tomar decisões e cativar pessoas diferentes.
“É por isso que devemos desenvolver nossas redes profissionais deliberadamente, como parte de um esforço intencional e coordenado para identificar e cultivar relacionamentos com contatos relevantes.”
4. “Networking é egoísta.”
Muitas pessoas que não fazem networking justificam sua escolha como uma questão de valores pessoais. Elas consideram a prática “egoísta” ou “manipuladora” – uma maneira de obter vantagem injusta e, portanto, uma violação do princípio da meritocracia. Outros, no entanto, vêem-na como uma forma de reciprocidade.
Estudiosos descobriram que a opinião tende a se dividir por níveis hierárquicos. Enquanto profissionais de nível “júnior” são os que se sentem mais mal por terem de fazer networking para avançar na carreira, os mais seniores consideram que têm o bastante a oferecer para que a experiência seja benéfica dos dois lados. A diferença se resumia a confiança ou dúvida sobre o valor de suas contribuições, de acordo com a pesquisa.
Para Herminia, a única maneira de entender a atividade como nobre e benéfica é, novamente, tentar por si mesmo e perceber seu valor – tanto para você, quanto para a organização em que trabalha.
5. “Os laços fortes são os mais valiosos.”
Outro equívoco que atrapalha a construção de uma rede de contatos é a ideia intuitiva de que nossos relacionamentos mais importantes são os do nosso círculo íntimo – relacionamentos estreitos e de alta confiança com pessoas que nos conhecem bem.
“Embora sejam realmente importantes, tendemos a subestimar a importância de nossos ‘laços fracos’ – relacionamentos com pessoas que ainda não conhecemos bem ou que não vemos com muita frequência – o círculo externo de nossa rede”, afirma a professora.
Na realidade, o principal problema em confiar sempre nos mesmos conselheiros e colegas próximos é que há grandes chances deles terem a mesma perspectiva, informação (e até opinião) que nós.
Herminia resume: “Laços fracos, as pessoas na periferia das nossas redes atuais, aquelas que ainda não conhecemos muito bem, são a chave para a evolução do networking”.
Extensa pesquisa já mostrou que a intuição estratégica – e capacidade de inovação – flui melhor nos “laços fracos”. Além disso, eles permitem que haja conexão com contatos ainda mais distantes.
A resposta está no mindset
Nossa mentalidade – e os equívocos sobre networking em que acreditamos – afetam o tempo e o esforço que investimos e, finalmente, o retorno que obtemos de nosso investimento, afirma a especialista. E, claro, é possível mudar o mindset, porém apenas com base na experiência própria. Para Herminia, “a única maneira de entender que o network é um dos recursos mais importantes para o seu trabalho e carreira é experimentá-la e descobrir o valor por si mesmo”.