Praticamente quatro entre cada dez (38%) crianças e jovens brasileiros estão pessimistas com o futuro do país. É o maior percentual entre 15 países avaliados em um estudo da Ipsos para a Bill & Melinda Gates Foundation, somente igualado pelos franceses, e bem acima do observado na juventude de países como México (19%), Índia (7%) e China (4%).
O levantamento questionou tanto crianças e jovens (entre 12 e 24 anos) quanto adultos sobre as expectativas para o futuro — não apenas em relação ao próprio país, mas também sobre o mundo como um todo. Considerando apenas os adultos, a “taxa de pessimismo” brasileira sobe para 45%, mas fica abaixo da vista na Alemanha (48%), Grã Bretanha (50%) e França (61%).
Quando o assunto é o pessimismo com o mundo todo, o dos jovens brasileiros cai para 30%. Ainda é maior que o dos países asiáticos (o dos chineses é de 13%, e dos indianos, 12%) e africanos (17% no Quênia e 14% na Nigéria), mas é mais baixa que o dos europeus em geral — na França, o pessimismo é de 70%.
Entre as principais preocupações demonstradas pelos brasileiros para o futuro, estão a educação (citada por 42% do total), e as questões de saúde (41%) e segurança (36%). Para efeito de comparação, apenas na Rússia e na China a educação é uma preocupação maior.
Por outro lado, enquanto países como Austrália, França, Grã-Bretanha e China têm acima de 30% a preocupação dos jovens com o desemprego, a dos brasileiros, nesse quesito, é um tanto menor — 23% citaram o problema.
Em termos globais, a tendência observada é de um pessimismo muito maior entre os jovens de países desenvolvidos e mais baixo nos pobres e em desenvolvimento — com exceções como o Brasil, que, mesmo se enquadrando no primeiro grupo, tem uma alta taxa de sensação negativa sobre o próprio futuro entre os mais novos.
O resultado se explica pelo fato de, ainda que os países mais pobres enfrentem maiores dificuldades, neles, a população experimentou uma melhora de condições econômicas e sociais nos últimos anos, com o alívio à extrema pobreza. Países como Índia e China passam por um crescimento econômico intenso, enquanto, na União Europeia, a economia tem andado de lado recentemente.
Além disso, como aponta a Fast Company na análise do relatório, fatores como a participação política ajudam no otimismo dos jovens. Em países como Índia, Quênia e Nigéria mais de dois terços dos entrevistados acreditam que podem influenciar o governo de seus países. Mesmo no Brasil, 54% concordam com o raciocínio. Na Alemanha, entretanto, são apenas 20% os que acreditam nisso, e, nos Estados Unidos, a 35%.
Outro dado, no entanto, ajuda a explicar porque os jovens brasileiros destoam dos outros países em desenvolvimento no otimismo dos mais jovens. Enquanto na Arábia Saudita e na Índia, os percentuais dos que concordam com a afirmação “os líderes políticos do meu país se importam comigo” são, respectivamente, de 63% e 56%, o Brasil tem a taxa mais baixa de toda a lista: apenas 16%.