Um universo de oportunidade. É assim que Bruno Feigelson, diretor-presidente da Associação Brasileira de Lawtechs e Legaltechs (AB2L), define o setor de tecnologia aplicado ao direito no Brasil. “Somos o país que tem o maior número de faculdades de direito do mundo, são mais de 1,3 mil. Se somarmos todas as faculdades da China, Europa e Estados Unidos, não chegamos a esse número.
Também temos 1,1 milhão de advogados e gastamos o maior percentual do PIB com o judiciário do mundo, que é 1,3%”, afirma. Mesmo com um mercado tão representativo, o uso de tecnologias e o desenvolvimento de novas soluções não acompanha esse potencial. Para atuar nesse setor e buscar transformar essa realidade do direito brasileiro, foi idealizado o Future Law Innovation Center, inaugurado hoje (05/09) em São Paulo, com foco nas lawtechs, startups de tecnologia com atuação no campo do direito.
O centro de inovação – que, além de Feigelson, tem os advogados Cristiano Xavier e Alexandre Zavaglia e o Chief Marketing Officer da Thomson Reuters Ralff Tozatti como idealizadores – irá promover cursos, eventos, palestras, pitch days, hackatons e outras atividades multidisciplinares. A ideia é reunir, em um único espaço, todos os atores envolvidos no setor de direito e tecnologia e, a partir dessa convivência, gerar resultados positivos. “Queremos promover todos os aspectos ligados a direito e inovação para que os advogados se conectem com essa realidade 4.0 e possam prover maior justiça e maior igualdade. Assim, poderemos diminuir o custo do PIB em relação ao judiciário e tornar o sistema jurídico mais eficiente”, explica Feigelson à Época NEGÓCIOS.
Apelidado de Flic, o centro é o primeiro a ser patrocinado pela Thomson Reuters na América do Sul – existem seis outros centros de inovação apoiados pela empresa e espalhados pela Ásia, Europa e Estados Unidos. “São Paulo é a capital da América Latina e o Brasil é o segundo maior mercado de legal depois dos Estados Unidos”, explica Ralff Tozatti, da Thomson Reuters.
Nos Estados Unidos, Tozatti avalia que o mercado das startups está muito apoiado na análise de dados ligada ao conteúdo. No Brasil, graças à alta carga de burocracia nos processos e ao elevado volume operacional nos advogados, existe uma quantidade maior de “startups nascendo para busca e automatização de dados”. “Enquanto os EUA estão olhando muito para busca de conteúdo e informação, o Brasil tem uma necessidade muito latente em relação à gestão, busca e processamento de dados, além de geração de insights para tomada de decisão”, afirma. “Sendo assim, percebemos que a Future Law seria a triangulação entre nós da Thomson Reuters, o mercado e o conhecimento”, explica o executivo. A Future Law foi a plataforma lançada oficialmente pelos advogados Bruno Feigelson, Cristiano Xavier e Alexandre Zavaglia em setembro de 2017.
Os cursos oferecidos no Flic – alguns gratuitos – vão abordar, além do direito, temas como inteligência artificial, uso de dados, marketing, inovação, empreendedorismo, futuro tributário, entre outros.
Para Feigelson, o mercado está aquecido em escala mundial. “No mercado norte-americano, as lawtechs receberam investimentos nos últimos cinco anos na ordem de US$ 1 bilhão”, afirma. A construção do FLIC enquanto um hub em São Paulo, portanto, caminha de acordo com essa tendência. “Acredito que vamos ver nos próximos anos esse movimento de lawtechs, que fortemente se iniciou em 2017 e vem ganhando corpo em 2018, ganhar uma dimensão maior e redesenhar a forma como se advoga. A forma como fazemos hoje, com poucos dados e muito subjetivamente, vai ser alterada pelo novo profissional que já está se formando nas faculdades ou que já está assumindo cargos importantes nos escritórios e empresas. Munidos de muita informação, eles vão tomar decisões estratégicas e contribuir com o ambiente de negócios”, afirma Feigelson