O desembarque da chinesa BYD(Build Your Dreams) na Europa reforça uma nova tendência que, rapidamente, está transformando os sistemas urbanos de transporte diante de cidades ávidas por reduzir o trânsito, cortar as emissões de CO², suprimir gastos públicos e ainda depender cada vez menos dos barris de petróleo. A BYD não é a única do setor a se interessar pela Europa. A Yutong também anunciou a criação de uma sociedade com a francesa Dietrich Carebus.
O interesse chinês pela Europa não ocorre por acaso e faz parte de uma estratégia global de liderança em um novo modelo de transporte. Em Pequim, o segmento de ônibus elétrico se transformou em uma prioridade industrial para o governo, que passou a dar subsídios de até 40% para empresas que optem por substituir seus velhos modelos a diesel pela nova tecnologia. Assim, a China espera se inserir num novo mercado em posição de líder incontestável. Dos 120 mil ônibus elétricos vendidos no mundo em 2017, 95% circulam na China. Agora, essas empresas querem expandir e colocam o continente europeu como uma de suas prioridades.
Na Europa, o transporte representa 27% das emissões de CO² e a meta do Acordo de Paris é de que, até 2050, essas emissões sejam reduzidas em 90%. Mas a venda de carros elétricos ainda é pequena. Em 2017, por exemplo, apenas 250 mil unidades chegaram às ruas europeias, ante mais de 19 milhões de novos carros vendidos no mesmo ano.
No que se refere aos veículos privados, a meta europeia é ainda tímida, com o objetivo de chegar a 5% da frota do continente sendo elétrica ou híbrida até 2021. Na China, a meta é chegar ao fim deste ano com 4% da frota operando de forma elétrica. As autoridades europeias viram no sistema urbano de transporte uma maneira de acelerar a introdução da nova tecnologia.
Dos 725 mil ônibus que hoje circulam pelo continente, 2,5 mil são elétricos. Em Londres, o prefeito Sadiq Khan declarou que, a partir deste ano, nenhum veículo a diesel seria comprado e que, até 2020, todos os tradicionais ônibus vermelhos de dois andares da cidade seriam híbridos. Pelo continente europeu, cidades como Genebra, Oslo e Amsterdã também seguem na mesma direção. No ano passado, 13 grandes cidades mundiais se comprometeram a comprar exclusivamente ônibus elétricos até 2025.
À frente
E, nesse novo mercado, a China quer garantir sua liderança. Hoje, a cada cinco semanas, 9,5 mil ônibus elétricos novos começam a circular pelas cidades chinesas – o equivalente à frota total da Londres. São 300 mil ônibus elétricos circulando hoje na China. Em Paris, os primeiros veículos com essa tecnologia devem chegar só em 2020. Atualmente, 17% do transporte público urbano da China é movido a eletricidade, em comparação a menos de 2% na Europa.
Shenzhen é considerada como o maior exemplo desse desenvolvimento, depois que completou a eletrificação de toda a frota de 16 mil ônibus no fim de 2017. Para permitir que isso pudesse ocorrer, a prefeitura local instalou 32 operadores de energia, 166 estações de recarregamento e mais 1,8 mil pontos de eletricidade de curta duração. Até 2020, serão 8,2 mil pontos, capazes de atender a 24 mil veículos.
Mais veículos, menos petróleo
Um levantamento feito pela agência ‘Bloomberg’ apontou que o incremento da frota de ônibus elétricos tem afetado a demanda mundial por petróleo. A cada mil veículos colocados nas ruas, a demanda diária por petróleo cai em 500 barris. Em 2018, o número de barris de petróleo excedente poderia aumentar em 37%, atingindo um total de 279 mil. Só com os ônibus chineses, esse total seria de 233 mil.
Os números ainda estão distantes dos 95 milhões de barris de petróleo produzidos no mundo diariamente. Mas já são equivalentes a todo o consumo da Grécia e a tendência é de que esse volume aumente de forma exponencial, uma vez que as cidades europeias estão ampliando suas frotas de ônibus elétricos. Dados da União Europeia apontam que o mercado global para o ônibus elétrico deve registrar uma alta de 33% ao ano, entre 2018 e 2025. Só na China, as estimativas apontam para 200 mil unidades vendidas só em 2020.
Frota brasileira
O Brasil caminha lentamente para a eletrificação da frota de ônibus, mas há chances de que, nos próximos anos, a presença desse tipo de veículo aumente pelo menos na cidade de São Paulo. A nova licitação de ônibus urbanos, ainda a ser aprovada, estabelece que, num prazo de dez anos, a frota em circulação reduza as emissões atuais de CO² em 50% e chegue a zero em 20 anos.
A norma não impõe a tecnologia a ser adotada, portanto podem ser usados veículos híbridos (que rodam com eletricidade e diesel), gás natural ou os 100% elétricos, entre outras alternativas. A frota atual, quase toda movida a diesel, é de 14,4 mil ônibus.O diretor da montadora chinesa BYD, Adalbeto Maluf, afirma que só veículos elétricos serão capazes de cumprir a meta de emissão zero. O grupo chinês tem uma fábrica em Campinas (SP) que produz ônibus elétricos e deve vender este ano cerca de 80 a 100 unidades. A capacidade atual da fábrica é de 300 unidades/ano.
O País tem no máximo 300 veículos de transporte urbano movidos a eletricidade, dos quais 200 são trólebus produzidos há vários anos pela Eletra, de São Bernardo do Campo (SP). Esse tipo de veículo depende de rede de energia – que é transferida ao veículo por duas hastes instaladas no teto.
A Eletra também produz modelos convencionais, mas apenas duas unidades estão rodando em testes, um deles no câmpus da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), abastecido com energia solar. Outro está na frota da empresa Metra Transportes, em São Paulo. A Volkswagen Caminhões e Ônibus também estuda a produção futura de ônibus elétricos. Em 2020, a empresa iniciará a produção comercial de caminhões elétricos em sua fábrica de Resende (RJ).