A moda pode até mudar com o passar do tempo. Mas, seja qual for o sonho de consumo do momento, sempre foi certo que as pessoas mais ricas seriam as primeiras a ostentar as mais caras versões de bolsas, relógios ou carros luxuosos. Hoje, porém, as tendências parecem estar diferentes. Segundo a escritora Elizabeth Currid-Halkett, os ricos têm investido mais em educação, saúde e privacidade do que em bens materiais.
Elizabeth é autora do livro The Sum of Small Things: A Theory of an Aspirational Class (A Soma das Pequenas Coisas: Uma Teoria de uma Classe Aspiracional, em tradução livre). Na obra, ela classifica o novo hábito como uma forma de “consumo discreto” — oposto ao “consumo notável”, aquele que usa os objetos como status social.
“Evitando um materialismo evidente, os ricos estão investindo significativamente mais em educação, aposentadoria e saúde — todos os quais são imateriais, mas custam muitas vezes mais do que qualquer bolsa que um consumidor de renda média possa comprar”, escreve ela em um trecho, citado por uma reportagem do Business Insider.
Embora o novo “estilo de vida” não dispense o consumo de bens físicos, sua diminuição foi notável. Dados da Pesquisa sobre Despesas do Consumidor dos EUA analisados pela autora mostram que, nos país, o 1% mais rico gasta menos em bens materiais desde 2007. A mudança, segundo a autora, não atinge apenas milionários e bilionários, envolvendo também a “classe aspiracional”.
Na prática, a tendência pode ser vista, por exemplo, em como os pais investem altas quantias de dinheiro em escolas e universidades de ponta para os filhos. Incluído nesse investimento podem estar outros gastos significativos, como os necessários para morar a uma pequena distância das melhores instituições públicas das cidades. Nesses casos, a ambição é promover um futuro bem-sucedido para os filhos.
No caso dos adultos, o próprio hábito de trabalhar demais pode ser um símbolo de status. Há, ainda, os gastos com saúde. A reportagem destaca, por exemplo, que alguns nova-iorquinos ricos pagam até US$ 900 (R$ 3,5 mil) para ter acesso à Performix House de Manhattan, uma academia de elite da cidade. “O corpo magro e tonificado expressa a visão de mundo dessa classe: até o lazer deve ser produtivo”, descreveu Simon Kuper, colunista do jornal Financial Times, em um artigo publicado no ano passado.
Apesar de discreto, o hábito não deixa de ser considerado um modo diferente de “ostentação”. “Para a classe de aspirantes de hoje, escolhas de consumo discretas protegem e preservam o status social, mesmo que não exibam necessariamente isso”, escreve Elizabeth.