Já sabemos que a tecnologia levará algumas funções a desaparecer, enquanto outras novas surgirão. Mas quem serão os responsáveis por pensar nesse processo? “Terá de ser alguém que não tem medo de questionar o que faz e de perder sua própria posição”, diz Mateus Carneiro, Head Global de RH do BTG Pactual. Para ele, o setor de RH tem um desafio duplo quando o assunto é transformação digital: precisa trazê-la para sua própria realidade e impulsioná-la para a empresa inteira.
Recursos como big data e inteligência artificial (IA) são algumas das apostas que figuram nessa área. O banco usa a estruturação e análise de dados para, por exemplo, acompanhar a “jornada” de seus funcionários na empresa: por qual tipo de processo entraram, como se desenvolveram e se capacitaram ali dentro, para quais cargos poderiam ser promovidos ou por que deixaram a antiga posição. A partir do ano que vem, os processos de recrutamento incluirão a IA como mais uma forma de analisar informações e candidatos.
Para Carneiro, porém, a transformação não tem a ver com aderir a ferramentas “X” ou “Y” apenas porque estão em alta. “É preciso questionar como se fazem as coisas, se é a melhor forma ou se vale a pena mudar”, diz. Ele também diz crer que a adoção de recursos como a IA ainda precisa ser pensada e testada antes de se tornar determinante em recrutamentos. “Se algum dia isso vai acontecer, e se teremos algo tão mágico que dirá qual é o melhor candidato, eu não sei. Mas ela certamente vai ajudar”.
Mentes criativas
Mais do que um alvo, o recrutamento também pode ser um ponto chave para a transformação de um setor ou de uma empresa. “Não adianta apenas ter a motivação de empreender e inovar. Também precisamos de competência técnica de tecnologia”, diz Carneiro. Para atrair (e manter) esses profissionais, ele diz ser necessário oferecer um ambiente propício ao aprendizado e ao desenvolvimento de ideias.
Os jovens podem ter grande protagonismo, levndo insights e questionamentos que muitas vezes não são feitos por quem faz as mesmas coisas há um tempo. Eles, porém, não necessariamente serão os únicos a trazer novas ideias. “Às vezes as ideias vêm de quem tem um tempo de estrada e algum conhecimento”, destaca Carneiro. “Por isso é importante capacitar os jovens: daqui a alguns anos, com mais experiência e background, eles poderão trazer ainda mais”.
O conhecimento técnico e a vontade de aprender do jovem, afirma, devem estar alinhados ao perfil e à cultura da empresa para o processo ser construtivo para ambos. Com o avanço da tecnologia, esses fatores, bem como as próprias soft skills, podem se tornar ainda mais importantes. O autoquestionamento, destacado por ele como necessário para a transformação dos trabalhos como um todo, também entra nesse mérito.
“Quem são as pessoas corretas? Depende da empresa, do seu objetivo, da sua cultura, do mercado e do timing. A gestão precisa dedicar um tempo para pensar nisso”, diz.
Dinamismo constante
Para Carneiro, a parte mais difícil é “trocar o pneu enquanto o carro está andando”. “Estamos em um mundo em que as coisas acontecem de forma muito dinâmica. Pensar em tudo fazendo o que você tem que fazer no dia a dia é um desafio”.
Embora não haja um segredo para o sucesso, estar atento e estudar as tendências do mercado e do futuro é o básico – e deve sempre estar presente. Além de estimular ideias internamente, o banco apostou na criação de uma aceleradora de startups para conhecer e absorver oportunidades e ideias de fora.
“Continuar pensando e questionando se há maneiras mais eficientes de fazer o que você já faz ou de fazer algo que você sequer fazia também é um desafio”, diz o chefe de RH. “Não se pode se acomodar e deixar passar oportunidades. Essa realidade é uma tendência e essa mentalidade não pode mudar”.