Seja para atingir a meta de dar 10 mil passos diários ou checar a conta bancária por meio de relógios inteligentes, muitos de nós já tiramos vantagens da tecnologia vestível.
Mas essa nova gama de produtos traz mais do que conveniência: pode contribuir para a resolução de amplos problemas sociais – e os desafios do envelhecimento populacional estão entre eles.
Essa mudança demográfica poderá ser a principal transformação do século 21, diz a Organização das Nações Unidas (ONU), que espera que a população com 60 anos ou mais dobre até 2050.
Uma das potenciais dificuldades desse grupo é justamente a redução da mobilidade, o que pode piorar a qualidade de vida e impor desafios à disposição do mobiliário de escritórios, espaços públicos e residências.
Um tipo de tecnologia vestível pode ser uma solução. Desenvolvida pela Seismic (empresa ligada ao centro de pesquisa SRI International, nos Estados Unidos), uma roupa leve e confortável é capaz de estimular a força muscular do usuário.
Os “músculos elétricos” da roupa, estimulados por pequenos motores, fazem contrações que simulam o funcionamento do corpo humano. Esses músculos elétricos são integrados à roupa na altura das articulações e funcionam como tendões no corpo humano.
Um computador e sensores integrados ao traje rastreiam o movimento do corpo. Um software informa quando ativar os “músculos” da vestimenta. Componentes como motores, bateria e um painel de controle são incorporados em pequenos hexágonos na parte inferior da roupa, projetados assim para oferecer conforto ao usuário.
Liberdade para se locomover
“Hoje, os únicos produtos que auxiliam as pessoas a caminhar são andadores e bengalas”, diz Rich Mahoney, fundador e CEO do Seismic.
“Outra opção é ficar em casa ou limitar sua atividade. E a maioria das pessoas escolhe isso, porque não quer ser associado a esses produtos”.
Cadeiras de roda são outra forma de auxílio, mas a roupa da empresa é voltada para pessoas com mobilidade apenas levemente reduzida.
Para que a roupa pareça elegante e seu funcionamento seja discreto, a Seismic trabalhou com o designer Yves Béhar. “O objetivo é desenvolver um produto que você realmente queira vestir e não que você precise vesti-lo”, diz Béhar. “O conforto é tão importante quanto a estética”.
O objetivo da Seismic é lançar o traje – o primeiro item no setor chamado de “roupas energizadas” – no final do ano nos Estados Unidos, Japão e Reino Unido. A super-roupa aparece ao lado de mais de cem outros produtos na The Future Starts Here, uma exposição realizada no Museu Victoria & Albert, em Londres.
Um problema que afeta a todos
A redução da força muscular relacionada ao envelhecimento é uma condição que afeta a todos. Essa perda muscular é acelerada a partir dos 60 anos, em 0,5% ao ano; aos 70, de 2% ao ano; e aos 80, de 4%.
O potencial desse tipo de tecnologia vestível ultrapassa, no entanto, o “mercado do envelhecimento”.
Pesquisas vêm sendo conduzidas para desenvolver produtos que auxiliem pessoas que sofreram derrames e crianças com distrofia muscular. Há ainda aplicações de segurança ocupacional e industrial – por exemplo, para profissionais de galpões ou obras.
“Como designer, meu foco é garantir que essa tecnologia seja usada de uma forma que faça sentido para nós, seres humanos – que melhore nossas rotinas”, diz Béhar.
Ele acredita que a tecnologia vestível está em sua infância. Afinal, há uma década, por exemplo, um acessório do tamanho da unha do polegar usado para detectar a exposição aos raios UV parecia impossível. “Daqui a dez anos, a tecnologia será ainda mais invisível”, diz ele.
É difícil prever a direção da tecnologia vestível nas próximas décadas. Mas, como tais avanços são aplicados a uma gama cada vez maior de usos e indústrias – e para ajudar a resolver problemas globais -, certamente o relacionamento simbiótico entre a tecnologia e os humanos pode beneficiar a todos.