Digital Silk Road – A estratégia da China para virar uma sociedade digital

A estratégia da China para virar uma sociedade digital

As antigas rotas comerciais que ligavam o Oriente e a Europa, conhecidas como Rota da Seda, foram fundamentais para expansão comercial e desenvolvimento de países como a China. Hoje, em vez de seda e especiarias, os chineses querem reviver a Rota da Seda para aumentar sua conectividade com países parceiros, através da chamada Belt and Road Initiative (BRI). Um artigo publicado no site da Observer Research Foundation descreve que, além da criação de projetos de infraestrutura portuária, transportes e corredores econômicos, um outro componente da agenda merece maior atenção: a Digital Silk Road.

Um documento oficial lançado em 2015 pelo governo da China apontava que o país avançaria na construção de cabos ópticos transfronteiriços e outras redes de comunicações para melhorar a conectividade internacional — uma espécie de Rota da Seda Digital. Outras políticas dedicadas à expansão digital propõem a melhoria das conexões de internet e comunicações, e até criação de uma infraestrutura de cabos terrestres e marítimos entre a China e os Emirados Árabes.

Novas estratégias para a conectividade na China foram tema de reuniões internacionais, como a 4ª Conferência Mundial da Internet de 2017, no Leste do país, em que o presidente Xi Jinping falou sobre a necessidade da criação de um “Corredor de Espaço e Informação”.

O motivo para tamanho empenho está nas taxas de crescimento da China, que avançam em ritmo lento, o excesso de capacidade industrial diante da demanda fraca e o envelhecimento médio da população. O país aposta no futuro da economia digital para sustentar níveis estáveis de crescimento. Para garantir que isso aconteça, o objetivo é aliar o desenvolvimento em infraestrutura com a conectividade digital.

Economia

A agenda da Digital Silk Road tem despertado interesse não só do governo chinês, mas de empresas privadas. Com a oportunidade de se aventurar em um novo mercado, empresários podem contar com a generosidade do Estado e apoio político, diz o cientista Hong Shen, da Universidade Carnegie Mellon, nos EUA, em um artigo publicado no International Journal of Communication.

Como exemplo, Shen cita a linha de crédito de US$ 2,5 bilhões criada pelo Banco de Desenvolvimento da China e o Banco Industrial e Comercial da China para a Bharti Airtel, a maior operadora de telecomunicações da Índia.

Responsável por transportar mais de 98% do tráfego internacional de internet no mundo, a rede de cabos submarinos de fibra óptica ainda é, em sua maioria, geograficamente concentrada e dominada pelos Estados Unidos. Com a construção de cabos transfronteiriços e submarinos, como o Projeto de Fibra Óptica Paquistão-China, a ideia também é proteger as comunicações do país da curiosidade de agências de inteligência estrangeiras.

A ambiciosa Rota da Seda Digital da China promete se estender por mais de 60 países e alcançar uma cobertura digital com 35 satélites, permitindo que o país deixe de depender dos Estados Unidos e aumente sua influência dipomática em fóruns regionais e internacionais relacionados à agenda. Mais do que oportunidades e desafios, essa nova Roda da Seda da China pode levantar questões importantes sobre o futuro da ordem digital global.