Na era das fake news, qual a saída para as empresas de mídia? Foi sobre isso que Ev Williams falou durante o Web Summit. No último painel do evento, o CEO e fundador do Medium afirmou que o problema enfrentado no jornalismo e na mídia é reflexo do desafio que enfrentamos enquanto sociedade. “Nós remuneramos a atenção, e não a qualidade”, diz.
As métricas mais usadas atualmente, afirma ele, dizem respeito ao número de visualizações ou tempo de permanência da página, mas não é tão fácil medir se as pessoas realmente gostaram daquele conteúdo.
“Você consegue saber onde as pessoas estão gastando o tempo, em quais páginas mais entram, mas não consegue medir como elas se sentem ao ler ou assistir ao conteúdo”, diz.
E o público, afirma Ev, muitas vezes gasta seu tempo em coisas que não necessariamente considera de qualidade. “Por exemplo, se você colocar na minha frente um monte de tortilhas, eu vou comer, mas não vou ficar feliz por ter tido a oportunidade de comer isso”, brinca.
Segundo Ev, é preciso fazer uma transição do modelo que remunera a atenção — com anúncios — para um que pague pela qualidade, com assinaturas de conteúdo.
Se o modelo é assinatura, o conteúdo precisa fazer com que o usuário se sinta bem, sinta que aquilo valeu o tempo e o dinheiro gastos. Se o modelo é baseado inteiramente em publicidade, afirma ele, não importa se a pessoa gostou ou não, o que importa é se gastou sem tempo com aquilo. Essa mudança foi o que aconteceu, por exemplo, com serviços como Netflix e Spotify.
“Sou otimista, acho que conseguiremos fazer essa transição, e acho que vai ter um ótimo momento para contar histórias e para o jornalismo”, afirma. “Com uma assinatura, o usuário tem acesso a uma experiência melhor, a um conteúdo de qualidade e sem ser interrompido por anúncios”.
Para que isso aconteça, porém, Ev Williams defende que as empresas de mídia precisariam assumir uma postura diferente: deveriam abraçar a tecnologia. “A mídia e a tecnologia têm sido vistas como dois setores separados, o que é contraditório, porque a mídia e o jornalismo foram os primeiros a ir para a internet”, diz.
O melhor modelo, defende, seria um que englobasse as melhores características de cada setor. “O algoritmo não deveria determinar tudo o que você vê, mas, por outro lado, deveríamos dar voz a mais pessoas”.
O que significa fake news?
Não é de hoje que mentiras são divulgadas como verdades, mas foi com o advento das redes sociais que esse tipo de publicação popularizou-se. A imprensa internacional começou a usar com mais frequência o termo fake news durante a eleição de 2016 nos Estados Unidos, na qual Donald Trump tornou-se presidente. Fake news é um termo em inglês e é usado para referir-se a falsas informações divulgadas, principalmente, em redes sociais.
Na época em que Trump foi eleito, algumas empresas especializadas identificaram uma série de sites com conteúdo duvidoso. A maioria das notícias divulgadas por esses sites explorava conteúdos sensacionalistas, envolvendo, em alguns casos, personalidades importantes, como a adversária de Trump, Hillary Clinton.
Como funcionam as fake news?
Os motivos para que sejam criadas notícias falsas são diversos. Em alguns casos, os autores criam manchetes absurdas com o claro intuito de atrair acessos aos sites e, assim, faturar com a publicidade digital.
No entanto, além da finalidade puramente comercial, as fake news podem ser usadas apenas para criar boatos e reforçar um pensamento, por meio de mentiras e da disseminação de ódio. Dessa maneira, prejudicam-se pessoas comuns, celebridades, políticos e empresas.
É isso o que acontece, por exemplo, durante períodos eleitorais, nos quais empresas especializadas criam boatos, que são disseminados em grande escala na rede, alcançando milhões de usuários. O Departamento de Justiça Americano denunciou três agências russas, afirmando que elas teriam espalhado informações falsas na internet e influenciarem as eleições norte-americanas de 2016.
Existem grupos específicos que trabalham espalhando boatos. No entanto, não é fácil encontrar as empresas que atuam nesse segmento, pois elas operam na chamada deep web, isto é, uma parte da rede que não é indexada pelos mecanismos de buscas, ficando oculta ao grande público.
Para disseminar informações falsas, é criada uma página na internet. Um robô criado pelos programadores desses grupos é o responsável por disseminar o link nas redes. Quanto mais o assunto é mencionado nas redes, mais o robô atua, chegando a disparar informações a cada dois segundos, o que é humanamente impossível.
Com tamanho volume de disseminação de conteúdos, pessoas reais ficam vulneráveis às fake news e acabam compartilhando essas informações. Dessa forma, está criada uma rede de mentiras com pessoas reais.
Como os responsáveis pelas fake news atuam, geralmente, em uma região da web que é oculta para a grande maioria dos usuários, não é fácil identificá-los e, consequentemente, puni-los. Além disso, essas pessoas usam servidores de fora do país, em lan houses que não exigem identificação.
Como combater as fake news?
Para as autoridades, identificar e punir os autores de boatos na rede é uma tarefa muito difícil. No caso do Brasil, a legislação que prevê punição para esse tipo de crime não fala sobre internet, cita apenas rádio e televisão.
Alguns sites de fake news usam endereços e layouts parecidos com os de grandes portais de notícias, induzindo o internauta a pensar que são páginas de credibilidade. Por isso, todo cuidado é pouco na internet.
A maneira mais efetiva de diminuir os impactos das fake news é cada cidadão fazer sua parte, compartilhando apenas aquilo que tem certeza de que é verdade. O ideal é duvidar sempre e procurar informações em outros veículos, especialmente nos conhecidos como grande mídia.
No Brasil, existem agências especializadas em checar a veracidade de notícias suspeitas e de boatos, as chamadas fact-checking. Alguns grandes portais de notícias também criaram setores para checagem de informações.