A qualidade do ar que respiramos

O ar que respiramos

Todo dia eu me deparo com alguma nova prova de que o ser humano é realmente uma raça fora do comum. Hoje foi a qualidade do ar – ou falta dela – que me deu provas.

Uma das coisas que eu mais noto, quando viajo, é a diferença da qualidade do ar dos lugares aonde vou. Me lembro de minha última visita a Xangai, em que passei quatro dias quase sem sair do hotel por conta do trabalho e, quando, no último dia, eu tive que ir atrás de um caixa automático para sacar dinheiro, me senti extremamente desconfortável depois de andar meras cinco quadras. Descobri que o índice de sei lá o que no ar naquela semana tinha ultrapassado 270. Em Pequim, estava mais alto do que 320. Londres fica ruim quando passa de 30 ou algo assim.

Entre Nova York, São Paulo, Londres e Madri, as cidades onde mais passei tempo na minha vida até hoje, acho que Madri tem a melhor qualidade de ar. Venho notando como a qualidade do ar de São Paulo vem se deteriorando seriamente. Especialmente em períodos de seca, o que não é de surpreender.

Por conta dessa minha “sensibilidade”, sempre que eu chego em algum lugar, a primeira coisa que eu faço é respirar fundo e, na primeira noite, faço o teste do algodão. O teste do algodão consiste em, depois de lavar o rosto com água e sabão, pegar um algodão, molhá-lo com qualquer líquido ou óleo de limpeza de pele e passar na pele. Se sair sujo mesmo depois de você ter lavado seu rosto, o ar é muito poluído. Tão poluído, que água e sabão não conseguem limpar tudo. Claro, eu sei que meu método não tem nada de científico, mas é minha rotina e, por existir já há algum tempo, eu tenho um padrão de comparação razoável.

Não sei quando foi que eu comecei a fazer isso, mas minha preocupação com a qualidade do ar se acentuou nos últimos anos, quando comecei a prestar mais atenção ao planeta e às consequências do nosso modo de viver no desequilíbrio do mesmo.

Talvez não ajude que eu seja fã de livros, filmes e séries pós-apocalípticas e, nos últimos tempos, a maioria nos aponta para um futuro em que a vida na Terra será muito ruim e isso é causado por nós mesmos.

Não precisa ir muito longe. O presidente dos Estados Unidos saiu do Acordo de Paris e, do provável presidente do Brasil, se espera uma atitude pouco preocupada – ou nada – com o meio-ambiente. De acordo com os últimos relatórios científicos, a realidade imita a ficção que antes me distraía, apenas para aumentar minha paranoia de que eu até que tô envelhecendo bem, mas não adianta eu estar bem se não vou ter onde viver daqui a alguns anos.

Estava pensando nisso – literalmente, no fim do mundo – quando me lembrei de uma linha de produtos que eu conheci logo que estava indo a mercado, da Reckitt Benckiser, a SiTi. Lançada sob a marca Dettol, a partir de um projeto de inovação, a linha identificou um novo problema: a poluição, para criar uma nova linha de faturamento para a empresa.

No site, a marca fala que a poluição do ar é a quarta maior causa de morte no mundo e se estende em apresentar as estatísticas do problema na Índia. Meu lado OCD quase levantou da frente do computador e foi comprar uma máscara na farmácia, mas eu estou na Suíça esses dias e o ar aqui, meu algodão não mente, está bem limpinho.

Pop up: quer saber como anda a qualidade do ar onde você está? Existem sites que monitoram em real time e, sinto dizer, São Paulo não tá bom mesmo.

Graças à Internet e aos hyperlinks, fui buscar outras tecnologias de purificação de ar e me deparei com várias alternativas. Descobri por que tecnicamente dentro do hotel em Xangai naquela semana fatídica eu conseguia respirar: filtros. E descobri que posso ter equipamentos na minha casa e escritório por menos de 300 dólares. Já estou fazendo planos.

De um clique a outro, me deparei com uma campanha no Indiegogo para um produto em que você “fuma” suas vitaminas. Ou seja, não basta o ar que você respira ter partículas, vamos fazer com que as partículas sejam as desejadas.

A tecnologia é simples, usando a mesma lógica empregada por cigarros eletrônicos – em que a pessoa consome um líquido que tem nicotina (uma cápsula equivale a, mais ou menos, um maço de cigarros) – a empresa criou uma forma de entregar sua dose diária de vitaminas. Pense num Centrum ou Redoxon em forma gasosa. A empresa já levantou o dobro de seu target, portanto, ao menos a primeira produção deverá acontecer.

Mais um clique e achei um produto já pronto, o VitaminVape, para quem quer respirar Vitamina B12.

Fiquei pensando no dia em que essa tecnologia puder ser usada em ambientes como shoppings, aeroportos e, por que não, aviões. Ao invés de entrar em uma loja de roupas femininas e apenas reconhecer o perfume, você estará recebendo sua dose diária de ferro. Na ponte-aérea Rio-São Paulo; vitamina B12. Indo para Fortaleza? Uma dose de zinco.
Não precisa ir tão longe: troque seu narguilé por um vapor de vitamina C nesse inverno.
O fato é que a população do planeta terá um problema de nutrição em breve: vai faltar comida, ergo, vai faltar vitaminas. Outro fato é que o ar está ficando sujo de porcarias. Quando eu vejo coisas assim sendo inventadas e penso no fim do mundo, penso que a gente até vai sofrer, mas nossa capacidade inventiva nos permitirá transformar esses limões em limonadas. Vai uma vaporizada de vitamina D?