Pessoas mais altas correm mais risco de ter câncer, de acordo com um novo estudo feito com dados de mais de um milhão de pessoas e divulgado nesta semana.
Apesar da conclusão, contudo, especialistas ressaltam que os resultados apontam um aumento muito pequeno no risco em comparação com outros fatores, como o tabagismo.
O estudo, publicado pela Royal Society, aponta para as mesmas conclusões de pesquisas anteriores e indica que, para cada aumento de 10 centímetros acima da média de altura usada como referência – 1,70 m para homens e 1,60 m para mulheres -, há um risco 10% maior de que a pessoa desenvolva câncer.
Os dados foram coletados em quatro estudos de larga escala, incluindo o Million Women Study – feito com pacientes de 23 tipos de câncer no Reino Unido, nos Estados Unidos, na Coreia do Sul, na Áustria, na Noruega e na Suécia.
Cada estudo escolhido tinha pelo menos 10 mil casos de câncer para cada sexo – ao final, 18 tipos de câncer foram analisados e incluídos no trabalho final.
Entre os 18 tipos de câncer analisados em homens e em mulheres, quatro – no pâncreas, no esôfago, no estômago e na boca/faringe – não mostraram nenhum tipo de aumento com a altura.
Nos tumores específicos de cada sexo, apenas um – o câncer de colo do útero – mostrou não ter relação com a altura das pacientes.
Quais são as razões para a relação entre altura e câncer?
De acordo com o estudo, ainda não está claro qual é o motor exato da conexão entre altura e tumores.
A principal teoria, no momento, é que pessoas mais altas têm mais células que podem se tornar cancerígenas.
Os níveis de hormônio, outras doenças e o fato de as pessoas serem mais ricas ou mais pobres quando crianças, por sua vez, podem influenciar na altura e, portanto, ter impacto sobre o risco de desenvolver câncer.
“Se 50 a cada 500 mulheres de altura média (1,60 m) tiverem câncer, então cerca de 60 em cada 500 mulheres altas (1,78 m) devem ter câncer. Se você considerar uma mulher muito alta, digamos 1,88 m, espera-se que 67 a cada 500 tenham a doença”, diz Leonard Nunney, autor do estudo.
“Já o efeito do tabagismo, por exemplo, é enorme. Mesmo um fumante leve (que fume três cigarros por dia) tem um aumento de seis vezes nas chances de ter câncer de pulmão, ou seja, de 50 a cada 500 pessoas, já passamos para 300 a cada 500, se essas 300 forem fumantes leves”, afirma.
O que os especialistas acham destas conclusões?
A altura é só um dos muitos fatores que determina o risco de câncer em uma pessoa, e certamente não é um dos principais. Além disso, é um fator que não pode ser modificado, diferentemente de outros associados ao estilo de vida.
Os especialistas continuam dizendo que a chave para aumentar as chances de evitar a doença é viver um estilo de vida saudável.
“O aumento no risco (causado pela altura) é pequeno, e há muito o que se pode fazer para reduzir esse risco. Por exemplo, não fumar e manter um peso saudável”, disse Georgina Hill, da instituição beneficente de pesquisa Cancer Research UK.
Para Andrew Sharrocks, professor de biologia molecular da Universidade de Manchester, acredita que “extrapolar uma correlação entre a altura e o câncer para o fato de a altura ser uma razão para o risco maior de câncer é um salto grande”.
“Isso seria apenas uma explicação possível. Da mesma forma, dizer que a incidência maior de câncer nos mais altos se deve a uma taxa alta de proliferação de células é algo dúbio. A maior parte dos tumores aparece depois do período de aumento da proliferação de células que está associado ao crescimento na infância e na adolescência.”
O que as pessoas altas pensam a respeito do estudo?
Stuart Logan, diretor do Clube de Pessoas Altas do Reino Unido, acha que os pesquisadores abordam o assunto de maneira incorreta.
Seu clube, criado em 1991, tem cerca de 250 membros no Reino Unido e na Irlanda, além de outros países europeus.
“Percebemos que muitos homens estão ficando na média de altura de 1,90 m a 1,93 m, e as mulheres, entre 1,77 m e 1,80 m”, disse à BBC.
“Seria mais útil se os cientistas entrassem em contato com associações como a nossa, e usassem nossos membros em seus estudos.”
Para ele, a conclusão da nova pesquisa também é um certo “balde de água fria” para os mais altos.
“O que me incomoda é que outros estudos dizem que quanto mais alto você é, menos chances você tem de ter diabetes, infarto e doenças cardíacas. Mas aí dizem que você corre mais risco de ter câncer.”