Nem todos os passageiros do voo 1036, da Gol, passaram pelo portão 20 do aeroporto de Congonhas, em São Paulo, e percorreram a pista de pouso em ônibus rumo ao Boeing 737-700 que decolou para o Rio às 16h deste sábado (29). O presidenciável Jair Bolsonaro (PSL) e sua equipe chegaram em carros da Polícia Federal e foram os últimos a embarcar, sob forte esquema de segurança.
A presença do deputado federal no avião provocou tumultos, gritos de apoio (“mito” e “ele sim”) e de protesto (“fascista”, “lixo” e “ele não”) e a desistência de dois passageiros, que não quiseram viajar com Bolsonaro. Houve ainda vaias e aplausos. A confusão atrasou a decolagem em 20 minutos.
O candidato que lidera as pesquisas para o Palácio do Planalto deixou, no início da tarde o Hospital Israelita Albert Einstein, na zona sul da capital paulista, após 23 dias internado em decorrência da facada que levou durante ato de campanha em Juiz de Fora (MG).
Bolsonaro sentou na primeira fileira do avião, na poltrona 1A, perto da janela, que tem mais espaço para as pernas.
Antes que ele entrasse na aeronave, comissários de bordo e policiais federais que, por lei, acompanham presidenciáveis durante a campanha, tiveram dificuldade para convencer passageiros a trocar de lugar para que o candidato e sua equipe ficassem juntos perto da cabine do piloto.
Bolsonaro viajou na mesma fileira do capitão da reserva do Exército Sergio Cordeiro, seu amigo há quase três décadas. Na 3A, estava um dos seus filhos, Carlos Bolsonaro, que é vereador do Rio e estava com o pai desde o ataque do último dia 6.
Quando a informação de que o candidato estaria no voo começou a circular, alguns passageiros passaram a reclamar em voz alta ou a sacar celulares para filmar a movimentação na entrada da aeronave.
Uma senhora que brigou com comissários de bordo para não deixar sua poltrona, na segunda fileira, passou a comemorar e gritar que ficaria até “na cozinha” para que Bolsonaro entrasse no avião.
Quando isso ocorreu, parte dos passageiros gritou repetidamente “mito”, alcunha pela qual ele ficou conhecido entre apoiadores, e outra parte se manifestou dizendo que “ele não”, slogan do movimento que protesta contra ele em diversas cidades brasileiras nesse sábado contra o candidato.
Um passageiro, mais exaltado, gritou ironicamente “viva a tortura” para apoiadores do presidenciável, que é capitão da reserva do Exército. “Viva o PT”, rebateu um oponente.
Durante o bate-boca, o passageiro contrário a Bolsonaro acrescentou “ignorância” e “ditadura militar” aos seus “vivas”.
“Vai lá conversar com seu ídolo em Curitiba”, disse o apoiador de Bolsonaro citando a prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). “Gente, respeita a opinião dos outros”, interveio uma mulher.
Bastante irritado, um homem que estava sentado na poltrona 8F disse que estar “torcendo para o avião cair” com Bolsonaro dentro. “Moço, não fala isso não”, respondeu uma mulher, que não o conhecia. O passageiro insistiu: “Estou quase saltando do avião, credo”.
Não tardou muito e ele perguntou a uma aeromoça se podia desistir do voo, o que lhe foi permitido. “Em 2014, derrubaram o voo de Eduardo Campos”, justificou, em referência à morte do então candidato à Presidência da República, em acidente aéreo.
Pouco depois, a cantora Luísa Sonza também pediu para deixar o avião. Ela disse à reportagem do UOL que tomou a decisão por conta da presença de Bolsonaro.
Do lado de fora, policiais federais rondavam a aeronave enquanto os passageiros embarcaram.
Antes do embarque, uma comissária de bordo da Gol desabafou: “Moço, eu faço parte da companhia, mas eu sou humana também.”
O avião tocou a pista de pouso do Aeroporto Santos Dumont às 16h41. Carros da PF o aguardavam no local. Quando o avião pousou, parte dos passageiros vaiou o candidato.
Enquanto estavam no ar, os passageiros se comportaram. Agentes da PF controlavam e bloqueavam o acesso a Bolsonaro e até de duas mulheres que foram ao banheiro.
Durante o voo, ele deu uma breve entrevista a uma repórter da TV Globo. Quando a reportagem do UOL tentou falar com o candidato, em seguida, o presidente em exercício do PSL, Gustavo Bebianno, interrompeu e disse que ele já estava ofegante por ter falado demais.
Em sua conta no Twitter, Bolsonaro escreveu: “Obrigado a todos pelas manifestações de carinho que pude ver no percurso de volta e em todo Brasil!”.
Fonte: Folha