O império do impresso desaba, a Abril pede concordata

O império do impresso desaba, a Abril pede concordata

O Grupo Abril pediu recuperação judicial. O pedido foi protocolado na Justiça de São Paulo nesta quarta-feira (15/8) e, depois de homologado, será apresentado aos credores em até 60 dias. De acordo com nota divulgada pela editora, a dívida apresentada no pedido de recuperação é de R$ 1,6 bilhão. A proposta apresentada pela empresa é que fique com as dívidas paradas durante 180 dias, para que sejam renegociadas com os credores.

No dia 6 de agosto, a Abril anunciou o fechamento de diversas revistas e a demissão de cerca de 600 pessoas. Semanas antes, foi anunciada a saída de Giancarlo Civita da direção da empresa, que seria assumida pela consultoria financeira Alvarez e Marsal, dos Estados Unidos.

De acordo com o balanço de 2017 da Abril, a empresa fechou o ano com prejuízo operacional de R$ 368,3 milhões. O que mais pesou no prejuízo foi o pagamento das indenizações trabalhistas, que custaram R$ 23 milhões, e a baixa do ágio da marca Casa Cor, que custou R$ 45 milhões. O pagamento de dívidas tributárias para entrar no Pert, programa de refinanciamento fiscal do governo federal, levou da Abril R$ 63 milhões.

Também fez parte do processo a mudança na presidência. O executivo Marcos Haaland, sócio da consultoria Alvarez & Marsal, assumiu o posto no último dia 9 de julho. De acordo com a Abril, Haaland e sua equipe já implementaram medidas de redução de despesas, que incluíram a diminuição do quadro de funcionários e a interrupção da publicação de algumas revistas, entre outras iniciativas. “Vamos sair da recuperação judicial, quanto antes, com a empresa novamente saneada e em condições de ter um longo futuro digital”, diz Haaland.

No comunicado sobre o pedido de recuperação judicial, a Abril culpa dois fatores: “A ruptura tecnológica que atinge mundialmente as atividades de comunicação” e “os impactos da mais profunda crise no Brasil, cuja marca mais evidente foi uma perda acumulada de 10% no PIB per capita, causando a perda de milhares de empregos e dificuldades para inúmeras empresas”.

Possibilidade de venda

A venda de ativos é avaliada internamente como parte da solução para a geração de caixa. Segundo Infomoney apurou, desde antes do pedido de RJ a empresa mantém conversas com diversos grupos interessados em seu portfólio.

O UOL é um dos principais nomes envolvidos, num acordo que incluiria a compra de até 10 marcas publicadas pela Abril. A Somos Educação negociou longamente a aquisição do Guia do Estudante, mas as conversas estão paradas no momento. Títulos já descontinuados, como a Boa Forma, também têm interessados, mas nenhum acordo foi concretizado por enquanto.

Por fim, os controladores receberam sondagens de interessados em assumir toda a operação de mídia, o que incluiria as marcas mais importantes da Abril, como Veja, Exame e Quatro Rodas. Mas, internamente, essa negociação é considerada muito mais complexa. Além disso, a partir do pedido de RJ, qualquer venda depende de aprovação judicial.

A venda de títulos pode servir não apenas para levantar caixa, mas também para redefinir a estratégia do grupo. Para Douglas Duek, a reabilitação plena da empresa é possível, desde que bem estruturada, e por meio de um processo de dentro para fora. “O mundo sofreu transformações e a empresa não acompanhou”, afirmou Duek.

“Na prática, a empresa não está colhendo bons frutos porque não plantou da maneira correta. Como parte do diagnóstico, é preciso separar as unidades de negócio para entender o que dá lucro e o que perde dinheiro e adaptar a empresa para um novo ciclo”, afirma.

Apesar de ter prejuízo como grupo, a Abril segue tendo diversas marcas e operações lucrativas. E até experimentou crescimento em algumas áreas, como eventos e licenciamentos.

Marcos Haaland, atual presidente executivo do Grupo Abril, informou na entrevista à Exame que a receita da empresa caiu de R$ 1,4 bilhão, há quatro anos, para R$ 1 bilhão, em 2017.

Nesse período, a operação de mídia sofreu queda em todas as suas principais linhas de receita – em especial no faturamento publicitário, mas também em assinaturas e nas vendas de revistas. Essa última, é agravada pelo crescente fechamento de bancas de jornais em todo o país. O prejuízo do grupo no ano passado foi de R$ 300 milhões.

Corte no quadro de funcionários

Diante do quadro, a empresa tem sido obrigada a fazer demissões. Na última onda, foram cerca de 800 funcionários. Nem todos receberam a totalidade das indenizações devidas, mas a empresa garante que pagará os valores, de maneira parcelada.

Duek diz que todos os empregados devem acabar recebendo o que têm direito. “Pode demorar um pouco, mas todo mundo vai receber de acordo com o plano de recuperação judicial”, diz.

O grupo garantiu Abril que as indenizações trabalhistas serão pagas em sua totalidade, porém parceladas e que durante o processo de RJ as dívidas trabalhistas têm prioridade frente às demais.

Durante a RJ, as operações do grupo continuam funcionando normalmente. A empresa mantém cerca de 3 mil funcionários e o portfólio que fica é composto por Veja, Veja SP, Exame, Você S/A, Você RH, Quatro Rodas, Placar, Capricho, Claudia, Portal M de Mulher, Bebe.com, Saúde, Viagem e Turismo, Superinteressante, Guia do Estudante e Vip.

Publicações como Elle, Cosmopolitan, Mundo Estranho, Casa Claudia e Boa Forma, entre outras, foram encerradas.

Apesar de tudo, Duek garante que a imagem do grupo não necessariamente ficará abalada com esse episódio. “Se o trabalho de reestruturação for bem feito a empresa vai se recuperar e pode até ficar melhor do que antes”, diz.