A China chocou o mundo, construindo prédio de 57 andares em 19 dias.
A tecnologia vai entrar de vez em pauta na construção civil nos próximos anos. Essa é a projeção de especialistas do setor. E a mudança vai impactar e muito na cadeia de fornecedores e na mão-de-obra empregada, que terão de se qualificar nos novos modelos de construção para atender à essa demanda.
Comparada com outros segmentos da economia, como o automotivo, a construção civil tem muito a avançar quando o assunto é tecnologia. Mas esse cenário está prestes a mudar, garante José Carlos Martins, presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção.
“A construtora vai ser como uma montadora de carro. Depois do projeto pronto, será feita a montagem do prédio. Os fornecedores vão entregar o material pré-fabricado, pré-moldado e técnicos especializados farão a montagem. Não haverá mais espaço para tijolo sobre tijolo”, destaca.
Com papel fundamental em um canteiro, o mestre de obras, segundo Martins, terá de dominar também os conhecimentos como o da tecnologia BIM (Building Information Modeling – Modelagem de Informações da Construção), que cria digitalmente modelos virtuais de uma construção e permite melhor análise e controle do que os processos manuais.
Para o coordenador de Projetos Estratégicos da Construção Civil do Sebrae/Rio de Janeiro, Marcos Vasconcellos, não tem mais volta. A construção civil vai se aproximar do modelo da indústria automobilística. “Cada vez mais a construtora busca um sistemista (como é chamado o fornecedor de produtos acabados na indústria automobilística) que entregue soluções, não simplesmente mão-de-obra. Não quer mais quem forneça tijolo, quer a parede pronta”, explica.
Vasconcellos acredita que essa nova configuração abrirá espaço para o micro e pequeno empreendedor especialista, o que vai ao encontro também à Lei das Terceirizações, que permite à construtora terceirizar a contratação de funcionários. Em uma grande obra, detalha o coordenador, a incorporadora vai continuar precisando de instalador hidráulico, gesseiro e quem faça o madeiramento e instale os vidros. “Essa é a hora deles se qualificarem também como gestores do próprio negócio. Esses profissionais precisam se especializar e se colocarem à disposição do mercado, não somente de uma obra”, destaca.
Desde 2015, o Sebrae mantém o projeto Reconstruir em parceria com o Sinduscon-Rio e o Seconci-Rio para qualificar justamente pessoas que perderam emprego com a crise – cerca de 1 milhão de empregos formais foram cortados no setor desde o início da crise, em 2013. São cursos gratuitos para 13 diferentes formações – de mestre de obras a encanador – com o objetivo de mostrar a opção de microempreendedor individual e qualificá-los em áreas como fiscal e a gestão financeira. Eles aprendem a fazer um orçamento de obra, ter controle das finanças do negócio – separar das despesas pessoais – e também atendimento ao cliente.
“A ideia era dar qualificação para que esses desempregados pudessem fazer pequenas reformas para pessoas físicas. Mas com esse novo cenário, eles podem se tornar prestadores de serviço na cadeia”, afirma Vasconcellos.
Segmento deve crescer em 2018 e voltar a contratar
As perspectivas da retomada de crescimento são boas. O Produto Interno Bruto (PIB) da Construção Civil no país deve crescer 2% em 2018 e, com isso, as empresas voltarão a contratar. Outro indicativo de que a curva se tornou ascendente é a perspectiva de investimento em habitação no período de 2017 a 2020, conforme estudo Construbusiness – Brasil 2020, construir, planejar, crescer. A pesquisa calcula que, em média, a construção de novas moradias deve mobilizar cerca de R$ 205,6 bilhões por ano nesse período.
“Independentemente da posição que você ocupa, de pedreiro a engenheiro, é preciso estar preparado. Quem não está qualificado, não será contratado”, afirma Jaques Bushatsky, pró-reitor da Universidade Secovi, em São Paulo.
A Universidade Secovi-SP foi a primeira do gênero no setor imobiliário, criada justamente para ajudar a suprir essa lacuna. Em mais de uma década de atividades, já formou mais de 22,9 mil alunos. Segundo Bushatsky, profissionais como o mestre de obras também já aprimoraram seus conhecimentos na instituição. O que a universidade oferece é uma certa sofisticação para que eles possam entender melhor as orientações de profissionais como engenheiro e arquiteto.
“Ninguém vai ensiná-lo (o mestre de obras) a cimentar, mas orientá-lo como economizar água, diminuir os custos no processo, conferir se os demais operários estão usando os equipamentos de proteção obrigatória”, exemplifica.
Historicamente, porém, a mão-de-obra que põe as paredes em pé na construção civil é formada por um contingente que aprende na prática, é qualificada pela própria construtora, ou faz os cursos como os oferecidos pelo Senai, que mantém espalhados por todo o país canteiros-escola. Conquistada a primeira vaga, essa turma normalmente não volta a estudar para aprimorar seus conhecimentos.
A qualificação é justamente uma carência do setor. Isso porque o trabalhador não costuma se especializar por conta própria. Mais da metade (58%) dos trabalhadores com carteira assinada ampliou conhecimentos em ações propostas pela própria empresa. Nesse universo, 70% fizeram curso em Segurança do Trabalho, ou seja, não aprimoraram suas habilidades em si, conforme um estudo da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC).
Daqui pra frente, a âncora da economia deve ser a construção civil, não mais a agricultura. Vai ser preciso construir mais casas para os brasileiros morarem. Estimativa do Secovi-SP com a Fundação Getulio Vargas (FGV) prevê que serão necessárias 14,5 milhões de novos domicílios para suprir o déficit habitacional até 2025. O tamanho das famílias está diminuindo, menos pessoas por moradia.
Martins também acredita que o setor passará por uma grande revolução, com popularização de práticas que já ocorrem em outros países, como a impressora 3D na construção. Na Califórnia, nos Estados Unidos, na Índia, e na China já estão em testes equipamentos capazes de construir uma casa em poucos dias. Quando isso estiver pronto, o que parece coisa de ficção vai transformar o jeito de construir.