Executivos do Facebook e Twitter admitiram falhas passadas de suas empresas, em uma rara demonstração de modéstia, diante do Comitê de Inteligência do Senado dos EUA, nesta quarta-feira (5). Eles também elogiaram novos esforços para combater a propaganda bancada por estados em suas plataformas, dizendo que a tarefa é geralmente “esmagadora” e drena muitos de seus recursos.
Apesar das frequentes e contraditórias observações do presidente Donald Trump, oficiais de alto escalação da segurança nacional dos Estados Unidos continuaram alertando sobre operações estrangeiras de influência, que têm como alvo as eleições norte-americanas de 2018 e 2020. Há algumas semanas, o diretor do FBI Christopher Wray disse que agentes americanos têm sido alvo de técnicas tradicionais de espionagem. Além disso, Wray acrescenta que a agência detectou iniciativas criminosas para suprimir a votação e fazer contribuições ilegais de campanha.
Entre outras táticas empregadas por rivais estrangeiros, agentes do FBI, da Segurança Interna e do Comando Cibernético citaram ações para espalhar desinformação em redes sociais, tendo como alvo direto os eleitores norte-americanos, assim como ciberataques contra a infraestrutura eleitoral da nação. “Nossos adversários estão tentando minar nosso país de maneira regular e persistente”, disse Wray, “seja época de eleição ou não”.
Em seus comentários iniciais, a diretora de operações do Facebook, Sheryl Sandberg, reconheceu que o Facebook foi “muito lento para agir” em 2016 contra a campanha que partiu do Kremlin que havia sido preparada para semear discórdia entre eleitores americanos. “Isso é culpa nossa”, disse Sandberg, descrevendo a intromissão de Moscou como “completamente inaceitável” e uma violação dos valores do Facebook “e do país que amamos”.
“Nossos adversários são determinados, criativos e muito bem financiados. Mas nós somos ainda mais determinados e continuaremos lutando.”
“Estamos investindo no longo prazo, porque os trabalhos de segurança nunca acabam”, acrescentou a diretora, notando que o Facebook aumentou o número de funcionários de segurança e comunicação para 20 mil, o dobro do ano passado. “Nossos adversários são determinados, criativos e muito bem financiados. Mas nós somos ainda mais determinados e continuaremos lutando.”
O CEO do Twitter, Jack Dorsey, por sua vez, retratou a questão não apenas como um perigo para a democracia, mas como um risco para a própria saúde e segurança de seus negócios. Ele disse que, acima de tudo, a meta do Twitter é servir para a “conversa pública global”. Dorsey também reconheceu um leque de ameaças enfrentadas pela empresa, incluindo abuso generalizado, manipulação por forças estrangeiras e “automação maliciosa” (isto é, bots).
“Qualquer tentativa de minar a integridade de nosso serviço representa a antítese de nossos valores fundamentais”, acrescentou Dorsey. Ele também declara que a liberdade de expressão é um dos “valores principais” sobre os quais o Twitter se baseia.
O Google também foi solicitado a comparecer no comitê, mas não enviou nenhum representante. A companhia foi repreendida tanto por Democratas quanto por Republicanos. Em vez de disponibilizar a presença do CEO Sundar Pichai ou do cofundador Larry Page, a empresa ofereceu mandar Kent Walker, seu vice-presidente sênior de assuntos globais. Walker chegou a publicar seu “testemunho” antecipadamente no blog da empresa, na terça-feira (4). Uma cadeira vazia foi deixada na mesa, ao lado de Sandberg e Dorsey, para sinalizar a ausência do Google.
Questionados pelo senador Ron Wyden, Democrata do Oregon, se o Facebook ou o Twitter viram evidências de que a Rússia ou o Irã “apoiaram, coordenaram ou tentaram amplificar” qualquer desinformação online, Dorsey e Sandberg pareceram não ter certeza do que constitui exatamente um hoax. “Nós certamente vimos evidências que mostram que eles utilizaram nossos sistemas e jogaram para amplificar informação”, respondeu Dorsey. “Eu não tenho certeza — no que diz respeito à definição de hoax, neste caso —, mas é provável.”
Sandberg relembrou que o Facebook derrubou 650 páginas e contas ligadas ao Irã há duas semanas, dizendo que algumas delas foram ligadas à mídia estatal do país. “Algumas delas fingiam ser de imprensa livre, mas não eram”, disse ela. “Depende do que você define como ‘hoax’, mas acho que certamente nós vimos campanhas de desinformação.”
O Twitter, de modo semelhante, removeu 284 contas ligadas ao Irã, por participarem do que a empresa chama de “manipulação coordenada”.
A senadora Susan Collins, Republicana do Maine, perguntou quais medidas o Twitter tomou para notificar usuários que podem ter sido enganados por contas falsas que se passavam por americanos. Ela mencionou especificamente a conta que se passava pelo Partido Republicano do Tennessee, que foi derrubada recentemente. Dorsey reconheceu que a empresa pisou na bola nessa área.
“Nós simplesmente não fizemos o suficiente”, disse ele. “Neste caso em particular, não tivemos comunicação suficiente em termos do que foi visto e do que foi publicado e de que pessoas caíram nisso.”
“Nós precisamos chegar aonde as pessoas estão”, acrescentou Dorsey. “Se determinarmos que aquelas pessoas estavam sujeitas a manipulação e mentiras de qualquer tipo, precisamos fornecer a elas o contexto completo. Essa é uma área em que precisamos melhorar e precisamos ser diligentes para consertar.”
Dorsey também se apresentará ao Comitê de Comércio e Energia, onde se espera que ele refute firmemente as acusações de parlamentares Republicanos de que o Twitter tem censurado contas de direita.