Em julho, a 3GPP, entidade que define padrões de telecomunicações no mundo, definiu uma base técnica temporária de quais serão os padrões adotados para o desenvolvimento do 5G, a quinta geração de internet móvel, que, segundo especialistas deve revolucionar o setor.
Dada a largada para o desenvolvimento de equipamentos e infraestrutura para este tipo de rede, o Brasil ainda engatinha no processo, atrás de países pioneiros em tecnologia como Estados Unidos, onde Nokia e Verizon assinaram um acordo de US$ 3,5 bilhões para implementação de 5G massivo ou Coreia do Sul, que já fez testes com 5G para o usuário, na Olimpíada de PyeongChang, em fevereiro.
Especialistas da indústria dizem que só veremos soluções em 5G no Brasil a partir de 2020 e consumidor só terá acesso a este tipo de rede um ano depois, mas alguns entraves precisam ser superados no caminho.
“Historicamente, o Brasil não é dos primeiros a adotar tecnologia de ponta no mundo, por razões macroeconômicas, com dificuldade de entraves fiscais e baixo retorno de investimentos”, diz Roberto Medeiros, diretor de desenvolvimento de produtos da Qualcomm.
Um estudo encomendado pela empresa aponta que até 2035, quando se espera que o 5G esteja implementado no mundo todo, a nova tecnologia poderá gerar mais de US$ 12,3 trilhões de bens e serviços.
Roberto afirma que a adoção para consumidor final deve demorar mais do que pela indústria, dependendo de um ciclo virtuoso. As agências reguladoras identificam as parcelas do espectro -a frequência de sinal- a serem utilizadas, decide pela modalidade de licitação e sinaliza o cronograma para as operadoras, que por sua vez fazem as contas e estimula o consumidor a adquirir novos aparelhos com a tecnologia.
A Anatel afirma que está em fase de consulta pública sobre adoção das frequências 2.3GHz e 3.5GHz e espera realizar a licitação em 2019. As faixas de menor alcance, de 24 a 27,5 GHz, bastante importantes para automação industrial, ainda não têm previsão de consulta pública ou licitação antes de novembro de 2019, quando deve se definir o padrão oficial do 5G internacionalmente.
“A tendência é que esse leilão não saia imediatamente, o que é condizente com o passo em que estamos. Ainda há várias implementações de 4G em curso, com as operadoras aumentando alcance e cobertura”, diz Fábio Moares, diretor de estratégia da GSMA.
Ele avalia que um dos entraves pode ser a alta carga tributária no setor. “Quando houver o leilão, o governo vai ter que refrear a vontade arrecadatória. Exigir um investimento altíssimo pode retardar o desenvolvimento dessa tecnologia”, comenta.
A mesma avaliação é endossada por Sérgio Kern, diretor do Sinditelebrasil, entidade que reúne empresas do setor de telecom no país.“Se não tivermos ambiente tributário favorável, não adianta ter soluções de infraestrutura, o negócio não para em pé. O governo entende essa questão, mas o ambiente não é favorável.”
Para Nicolas Driesen, especialista em Vendas Técnicas da Huawei no Brasil, um dos entraves a se considerar não é regulatório, mas estrutural. “A indústria já está preparada e a Anatel não deve definir nada diferente do resto do mundo. Mas as redes não estão prontas. Não falamos só de antenas, é preciso ter solução de ponta a ponta para fazer o transporte desses dados em altíssima velocidade.”
Outro ponto considerado chave pela indústria na implantação das redes rápidas é a flexibilização da instalação de antenas desde as torres, chamadas de macrocélulas, até as antenas de curto alcance, utilizadas em projetos de smart cities. “É preciso que a regulamentação evolua para evitar soluções ortodoxas, como usar fachada de prédios para instalar antenas”, diz Wilson Cardoso, CEO da Nokia no Brasil.
A rodada definitiva de padronização do 5G internacional deve acontecer no final de 2019.