“Eu não costumo investir em startups de saúde”, afirmou José Luiz Setúbal, médico pediatra do hospital Sabará, criador da Fundação José Luiz Egydio Setúbal, um dos braços assistenciais do hospital — além de um dos acionistas do banco Itaú. Para ele, regulamentação existente no Brasil torna o setor pouco atraente a investidores. Mas, a pedido de um amigo, há dois ou três meses foi conhecer a startup Amparo Saúde.
“A minha ideia inicial era ouvi-los e não investir, mas eles me convenceram”, diz. O motivo dessa mudança foi a proposta da Amparo em oferecer um centro de saúde por assinatura, no qual o paciente teria um atendimento individualizado, a preços extremamente baixos.
O objetivo é melhorar o atendimento clínico e reduzir os custos em toda a cadeia de saúde, além de desafogar as operadoras e seguradoras. “Eles propõem um tratamento individualizado, com um acompanhamento mais de perto e trabalhando em conjunto com as operadoras (planos de saúde). Me parece uma solução interessante tanto para a operadora quanto para o paciente”, afirma. Com objetivos semelhantes, o megainvestidor Warren Buffett e Jeff Bezos, o homem mais rico do mundo, se associaram para criar um plano de saúde inovador nos Estados Unidos.
Números do Ministério da Saúde no Brasil corroboram a tese de que os atendimentos por médicos de família reduzem os gastos com consultas desnecessárias. Os dados do governo, divulgados ano passado pela revista ÉPOCA, apontam que 80% dos casos atendidos em consultório por médicos de família são resolvidos sem a necessidade de encaminhamento para outros especialistas.
A Amparo não é a única a investir nesse modelo de saúde. O próprio SUS possui um sistema parecido. A Estratégia Saúde da Família (ESF) tem o objetivo de reorganizar a saúde básica no país. Para isso, uma equipe multifuncional fica responsável por uma quantidade de pacientes, que podem totalizar no máximo 4mil pessoas por equipe. Integram esse time: um médico generalista, um enfermeiro generalista, um auxiliar ou técnico de enfermagem e agentes comunitários de saúde.
A diferença é que a Amparo se autodeclara como um centro de saúde por assinatura. Ou seja, não oferece um hospital, muito menos um pronto-socorro. Lá, a pessoa terá direito a consulta marcada com especialistas por um preço reduzido. Então, o indivíduo que quiser tornar-se um membro, pode escolher um dos pacotes de assinatura no site.
No Prime, por exemplo, a pessoa para R$ 99 mensais e tem direito a fazer consultas por um valor reduzido a R$ 10. Para especialidades que envolvem terapia, como a psicologia e acupuntura, o preço aumenta para R$ 60 reais. Ao se tornar um membro da Amparo, o indivíduo também consegue realizar exames por valores baixos e pagos a parte, uma boa parte deles realizados na própria clínica e exames de imagem que são efetuados com parceiros da instituição.
“Nós garantimos que fazemos zero lucro com exames. Cobramos para um exame de colesterol, por exemplo, R$1,50”, conta Emílio Puschmann, alemão radicalizado no Brasil, cofundador e CEO da Amparo Saúde. Ele afirma que laboratórios e clínicas populares acabam cobrando excessivamente caro, por exames, a fim de gerar receita. “Na nossa opinião, essa é uma indústria com pouca transparência”. A Amparo se compromete em educar o paciente-membro e “mostrar para ele que o exame feito aqui ou em um grande laboratório é, na verdade, a mesma coisa. Conseguimos oferecer isso sem nenhum conflito de interesse”, afirma Puschmann.
A startup oferece esse modelo de negócios principalmente para pessoas que não têm planos de saúde ou que perderam benefícios, empresas que não conseguem aportar o valor de um plano convencional e para as próprias seguradoras de saúde. No caso das empresas, por exemplo, é oferecido o sistema de assinaturas de consultas assim como no individual, mas a empresa pode optar ou não por adicionar um plano de saúde hospitalar para seus funcionários. Isso quer dizer que eles terão direito a internações hospitalares e atendimento no pronto-socorro em uma das redes conveniadas da Amparo.
Além disso, os prontuários eletrônicos consolidam as informações do paciente, não somente dentro da Amparo, mas também nas redes conveniadas. Dessa forma, se o paciente fica internado por meio de uma das seguradoras parceiras, a equipe que cuida dele recebe uma notificação e entra em contato com o hospital para poder ajudar nos cuidados dele. “Assim, podemos ajudar com que o hospital ou pronto-socorro não faça exames desnecessários, porque vamos conseguir cruzar os dados do paciente e avisar o que já foi realizado. Então, todo mundo vai ficar mais inteligente”, afirma Puschmann.
Outra diferença oferecida a qualquer paciente-membro da startup é assistência via Whatsapp. A pessoa não terá uma consulta pelo aplicativo, um médico de família, uma enfermeira da unidade e um técnico de enfermagem poderão sanar dúvidas no horário comercial. “Isso evita que o paciente se desloque até o pronto-socorro, porque ele consegue resolver uma boa parte de suas questões nesse grupo”, diz Puschmann.
Como um dos planos para 2019, a Amparo pretende lançar um sistema de gestão de saúde populacional, no qual o médico consegue colocar no sistema todo o histórico do paciente, incluindo exames, comentários das consultas, internações e histórico familiar. A máquina estima as chances de o paciente desenvolver uma determinada doença. “É um sistema inteligente que aprende com os dados e ajuda o médico a tomar decisões”, afirma Puschmann.
Em três meses de existência, a Amparo conta com quatro investidores, além de José Luiz Setúbal. Os planos são ambiciosos: “Pretendemos captar R$ 20 milhões nos próximos 12 meses”, afirma o CEO da startup.
Fonte: ÉPOCA