Mesmo com apenas 50 funcionários, a vinícola Hugo Pietro, de Caxias do Sul (RS), busca ganhar produtividade a partir de ferramentas da indústria 4.0, onda de modernização dos negócios baseada no uso de tecnologias em ascensão.
A empresa comprou dois robôs. Os equipamentos, que chegam em setembro, vão encaixotar garrafas de suco de uva, etiquetá-las e acomodá-las em paletes (estrados de madeira para movimentação), diz Jonatan Baldus, 32, gerente de projetos.
“Nossa expectativa é dobrar nossa produção. E vamos realocar seis funcionários para uma área de envase de vinho que vamos criar”, diz.
A companhia investiu R$ 900 mil nesse plano.
Ainda raro no segmento, o uso desse tipo de tecnologia começa a ser experimentado por algumas empresas de pequeno e médio porte.
“Já colocamos sistemas da indústria 4.0 em empresas de dez funcionários”, afirma Gilvan Menegotto, diretor da Autom, integradora de tecnologias do projeto da vinícola.
Uma das grandes barreiras para a chegada da revolução digital para essas empresas ainda é o desconhecimento.
Pesquisa da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) com 227 empresas indicou que 40% das pequenas não conhecem o tema da indústria 4.0. Entre as grandes, o percentual é de 3%.
O maior desafio a ser enfrentado para quem quer aderir a esse novo método de produção, especialmente para as menores, é a falta de recursos, indicada como maior barreira por 32% das empresas.
José Ricardo Roriz, presidente em exercício da Fiesp, diz que a falta de atualização tecnológica das pequenas empresas afeta todo o mercado.
“Se não há modernização na cadeia de suprimentos das empresas maiores, elas também têm dificuldades.”
Ele aponta que, como reflexo da crise brasileira e dos juros altos cobrados no país, houve dificuldade para empresas menores investirem.
Ronaldo Fragoso, sócio da consultoria Deloitte, afirma que empresas que fornecem para grandes dificilmente manterão sua posição sem se atualizar nos próximos anos.
Como exemplo, ele cita caso hipotético de supermercado que, para agilizar a reposição de produtos, passa a enviar automaticamente informações sobre o nível de seus estoques a fim de que fornecedores o abasteçam rapidamente quando necessário.
“Quem não estiver pronto para atender dessa forma não ficará nessa cadeia de suprimentos”, diz Fragoso.
Das que investem em tecnologia, quatro em cada dez estão otimistas em relação aos ganhos.
A Grossplast, em São Bento do Sul (SC), com cerca de 140 funcionários, está instalando sensores para medir o desempenho das máquinas que produzem tampas e embalagens plásticas em projeto feito com a Totvs.
Marcelo Grosskopf, diretor industrial da empresa, afirma que a tecnologia ajudará a companhia a vender mais.
Isso porque será possível medir com mais precisão a eficiência dos equipamentos. Sabendo o que a indústria produz em tempo real, é possível fazer propostas comerciais com prazos mais adequados e ajustar as coisas rapidamente caso o desempenho esteja abaixo do esperado.
“Se eu posso observar tudo o que está acontecendo, posso tomar decisões mais rápidas.”
Para a Brascol, atacadista de roupa infantil do Brás, em São Paulo, a tecnologia agiliza as vendas e melhora o controle do estoque. A companhia, com 400 funcionários, coloca etiquetas que transmitem informações via sinal de radiofrequência nas peças.
Elas permitem que o cliente cheque em segundos o valor parcial da compra. Para fazer isso, ele coloca o carrinho com o que já escolheu em um armário de um metro e meio com antenas que leem as informações das etiquetas, lista as peças e soma o preço delas.
O sistema também agiliza a conferência de produtos na hora de fechar a venda.
Com o acesso à informação de quanto estão gastando em tempo real, e não mais só na hora de pagar, os clientes da empresa tendem a comprar mais, diz Antônio Almeida, superintendente da Brascol.
Segundo ele, antes do uso do sistema, era comum que os compradores, por não terem somado adequadamente, pegassem menos itens do que poderiam e, para não passar pelo inconveniente de retomar uma compra que estavam terminando, gastassem menos do que o esperado.
Outra função das etiquetas, que são coladas pelos fornecedores, é ajudar na conferência dos itens que chegam à loja, para evitar perdas com erros.
Os investimentos em tecnologia permitiram à empresa melhorar sua rentabilidade em 20%, afirma Almeida. Ele diz que as etiquetas são fornecidas pela startup iTag. Cada uma custa cerca de R$ 0,30.
“O investimento não é o problema, o mais importante é trabalhar a parte cultural. Não é fácil, mas é viável. Não é um sonho, é realidade.”
Por Filipe Oliveira